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    Raquel Landim

    Um voto de confiança para Levy

    11/08/2015 18h51

    Na área econômica, as notícias tem muitas nuances que, às vezes, são difíceis de interpretar. Um exemplo disso é o recém divulgado corte da classificação de risco do Brasil pela Moody's.

    É uma decisão ruim para o país, mas as autoridades em Brasília devem estar soltando foguetes, porque, em meio ao caos político que se instalou no país, a agência decidiu manter a perspectiva da nota brasileira estável.

    Isso significa que a Moody's não vai - pelo menos por enquanto - tirar o selo de bom pagador do Brasil. Em seu comunicado, os técnicos da agência são taxativos sobre isso.

    "Apesar das expectativas para o ambiente econômico permanecerem ruins e a dinâmica política ser relativamente instável em 2015 e 2016, não esperamos atualmente uma deterioração tão severa das métricas da dívida brasileira para ameaçar o grau de investimento".

    Ou seja, depois de uma semana imersa em conversas com a equipe do Ministério da Fazenda, a Moddy's deu um voto de confiança ao ministro Joaquim Levy. A agência manifesta preocupação com a recessão e com a crise política, mas enxerga também o lado cheio do copo: uma economia diversificada, grandes reservas internacionais, baixa exposição do governo e das empresas a endividamento em dólar, etc.

    A princípio, a decisão da Moody's parece ir no rumo contrário da concorrente S&P, que mudou recentemente a perspectiva da classificação de risco brasileira para negativa e deixou o Brasil a beira de perder o selo de bom pagador.

    Mas por que tanta diferença de percepção sobre o mesmo país?

    Não é de hoje que as agências de classificação de risco traçam cenários diferentes para o futuro do Brasil. A S&P é mais crítica e já cortou um degrau da classificação brasileira em meados do ano passado, movimento que a Moody's só repetiu hoje.

    Economistas que entendem do assunto explicam que a S&P é mais focada no "entorno". Seus técnicos reconhecem que a condução da política fiscal melhorou, mas estão preocupados com a "execução". Na visão da S&P, a barafunda que se instalou no Congresso com a Operação Lava Jato e com a queda de popularidade da presidente Dilma não vai permitir que Levy cumpra seus objetivos.

    A Moody's está mais focada nos números e provavelmente foi convencida pela conta divulgada pelo ministério da Fazenda de que a dívida pública não deve estourar 70% do PIB, uma espécie de limite técnico para manter o grau de investimento. Por isso, não haveria necessidade agora de empurrar o Brasil para a beira do abismo.

    São maneiras diferentes de analisar a mesma questão, mas no fundo o recado é o mesmo. O ajuste fiscal é necessário. Se o Congresso trabalhar contra a arrumação das contas apenas para manter a presidente Dilma sob pressão, o Brasil vai perder o grau de investimento no ano que vem - pelos critérios de qualquer avaliador.

    Esperemos que as autoridades em Brasília não enxerguem a decisão da Moody's com uma carta branca para ceder às pressões e relaxar ainda mais no ajuste

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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