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    Raquel Landim

    O cansaço, a crise econômica e os protestos

    17/08/2015 10h00

    Os protestos deste domingo (16) trazem um recado muito claro para o governo: a panela de pressão que cozinha a administração Dilma continua fervendo e apitando, mas ainda não estourou.

    Segundo a Polícia Militar, a quantidade de manifestantes nas capitais clamando pela saída da presidente chegou a 612 mil pessoas, acima dos 521 mil de abril, mas abaixo do 1,7 milhão de março (os dados não incluem Rio e Recife).

    É um alívio para o governo, que chegou a temer uma onda que arrastaria Dilma para fora do Planalto. Esse momento ainda não chegou, mas não se deve menosprezar a importância dos atos que ocorreram por todo o país.

    De toda forma, chama a atenção que o número de manifestantes não cresça na mesma proporção que a popularidade de Dilma despenca e atinge patamares mais baixos que os de Collor. Por quê?

    Uma das explicações é o cansaço do brasileiro com a crise econômica, que já atinge os mais diferentes setores. Desemprego e inflação servem para engrossar o caldo das manifestações, mas até um certo ponto. As pessoas hesitam quando sentem que tudo pode piorar.

    Por enquanto o foco dos protestos continua sendo a corrupção descoberta pela Operação Lava Jato, que só parece não indignar os petistas mais devotos. Mas até agora não apareceu nada que implique Dilma diretamente.

    E, sem essa prova contundente, a "turma do deixa disso" ganha adeptos. Os empresários são os primeiros a pedir moderação aos políticos, preocupados com as vendas em queda e forçados a demitir.

    Eles estão aflitos com o custo de um impeachment. O processo seria longo e penoso para uma economia que já está em recessão. Significaria a perda do grau de investimento, o estouro do dólar, mais inflação, juros mais altos por mais tempo, mais desemprego.

    O empresariado está longe, mas muito longe de morrer de amores por Dilma, mas parece que boa parte prefere aguentar até o final do mandato do que pagar esse preço. Desconfio que essa mesma sensação se repita em públicos diferentes, que detestam a presidente, mas temem a fatura da sua saída.

    Só que é bom o governo não se iludir. Apesar do grande acordão que parece estar sendo costurado em Brasília, as ruas não deram trégua e a panela continua apitando. O caldo pode entornar a qualquer revelação nova da Lava Jato ou se a queda da economia for tão profunda que acabe de vez com as esperanças de melhora.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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