Visto como tábua salva-vidas do governo Dilma, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) está perdendo apoio entre o empresariado.
Levy já devia esperar a deserção de boa parte do setor privado de suas fileiras por conta da agenda de corte de benesses com a qual assumiu o governo.
O problema é que o momento político é tão delicado que reclamações normais em meio a um ajuste fiscal são amplificadas e podem se tornar ensurdecedoras.
No jantar nesta quinta-feira (27) com a presença do vice-presidente Michel Temer, Paulo Skaf, presidente da Fiesp, pediu a saída de Levy do cargo e repetiu as críticas que tinha feito na véspera, dizendo que o ministro não se importa em ceifar 1,5 milhão de empregos.
Os demais empresários presentes não quiseram se expor e não endossaram as palavras de Skaf. Nos bastidores, porém, o setor privado se queixa de que Levy não dispõe de alternativas que não sejam "quebrar o país" ou "aumentar impostos".
A lua de mel do ministro com o empresariado terminou na proposta de reoneração da folha de pagamentos, necessária para fechar as contas públicas, mas que pegou muitos setores desprevenidos, porque já tinham incluído as mudanças em seus cálculos.
Representantes dos 56 setores afetados estiveram em Brasília para tentar derrubar a medida e pediram para serem recebidos por Levy. O ministro atendeu à solicitação, mas deixou Skaf e os outros esperando por quatro horas... Não é motivo para rompimento, mas não ajuda a melhorar o clima.
A proposta de recriação da CPMF é mais um motivo de crítica a Levy. É o tipo de balão de ensaio que não ajuda em nada o governo, porque não tem qualquer chance de aprovação.
É claro que o ministro ainda mantém forte apoio no setor financeiro, entre economistas e formadores de opinião. Mas seu desgaste vai jogando mais lenha na fogueira no impeachment de Dilma e ajudando Skaf, que é filiado ao PMDB e já concorreu a cargos públicos, em sua tarefa de aproximar os empresários de Michel Temer.
Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.