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    Raquel Landim

    As razões para os bancos públicos não resgatarem a Petrobras

    19/02/2016 02h00

    Nesta semana, discutiu-se bastante no mercado uma saída heterodoxa para salvar a Petrobras: converter as dívidas dos bancos públicos em ações da petroleira.

    Seria uma maneira indireta do governo, que está quebrado pela farra fiscal, resgatar a companhia.

    A ideia foi esmiuçada pelo BTG em relatório. Pelas contas do banco, a estatal deve uma bolada às instituições estatais: R$ 87 bilhões - R$ 26 bilhões para o Banco do Brasil, R$ 11 bilhões para a Caixa e R$ 50 bilhões para o BNDES.

    A quantidade de dinheiro é significativa, mesmo para a dívida da Petrobras, que chega a cerca de US$ 100 bilhões ou R$ 400 bilhões.

    Alguns altos funcionários da Petrobras negam com vigor a operação, enquanto outros admitem em conversas reservadas que é uma possibilidade.

    A lógica do negócio combina com o governo Dilma: vamos comprar as ações desvalorizadas por esse injusto mercado e esperar que descubram o real valor da empresa que foi o "orgulho" dos brasileiros.

    Não podia ser um raciocínio mais equivocado. A Petrobras é uma empresa inchada, gerida por anos em prol dos interesses dos políticos e que foi assaltada por corruptos.

    Para piorar, o preço do petróleo despencou e há dúvidas se nesse patamar é viável explorar as reservas do pré-sal, cujo custo de extração ficou altíssimo.

    Sem dúvida, a operação reduziria o peso da dívida da Petrobras como um passe de mágica, mas não resolveria seus problemas de má gestão.

    Além disso, a solução é ruim para os atuais acionistas, como as milhares de pessoas que investiram o FGTS, porque seriam diluídos, ou seja, seu investimento automaticamente valeria ainda menos.

    É também um péssimo negócio para os bancos públicos, que aumentariam muito sua exposição à uma companhia com graves problemas. Saem da fila de credores e se tornam sócios, ou seja, afundam junto com o barco.

    O Banco do Brasil nega publicamente, altos funcionários da Caixa dizem em conversas reservadas que nunca ouviram falar, enquanto no BNDES parece que existe mais simpatia à proposta.

    Esse resgate só é realmente bom para os bancos privados e para os investidores internacionais que também são credores da petroleira.

    Isso porque, com a ajuda do governo, eles passariam na frente dos bancos públicos e sentariam na janela para tentar receber o seu quinhão.

    E, claro, também interessa ao partido no poder dizer nas eleições de 2018 que protegeu a Petrobras da perversidade do mercado, desviando o foco das atrocidades que cometeu na gestão da companhia.

    Tomara que realmente essa história não passe de especulação.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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