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    Raquel Landim

    Os reais riscos de insolvência e o efeito Dilma

    26/02/2016 02h00

    Com a decisão da Moody's, as três maiores agências de classificação de risco, incluindo S&P e Fitch, retiraram o selo de bom pagador do Brasil e rebaixaram sua dívida ao nível especulativo. Na prática, significa que o país não é um lugar seguro para investimentos, porque existe algum risco de calote.

    O rating do país foi cortado em dois graus, com perspectiva negativa. Agora, o Brasil é considerado tão seguro quanto Angola, pior do que a Rússia e todos os demais BRICS, e só ganha de Bolívia, Congo e países em guerra.

    Com certeza, essas comparações são um exagero. Não está nas projeções de nenhum economista que o Brasil possa voltar a bater às portas do FMI (Fundo Monetário Internacional) em breve.

    A trajetória da dívida brasileira é assustadora, mas, ao contrário do passado, boa parte está em moeda local. Além disso, 75% da dívida interna ficou nas mãos de bancos brasileiros, fundos de pensão locais, e outros investidores domésticos, que tendem a ser mais complacentes.

    "Antes de um problema de solvência, pode vir um forte aumento de inflação", diz Fernando Monteiro, economista da Corretora Convenção. Faz sentido. No limite, o Brasil poderia emitir mais reais para pagar suas dívidas, o que aumenta a quantidade de moeda em circulação e gera inflação.

    Mas há outras maneiras mais sofisticadas de o governo ganhar dinheiro com a inflação, como o chamado "imposto inflacionário". Quem viveu os anos 80 viu esse filme: o país deixa de combater a inflação e seus títulos de dívida se desvalorizam assim que são vendidos, ou seja, o governo embolsa mais do que a dívida vale.

    Outra maneira é, enquanto a inflação galopa, manter congeladas as despesas não indexadas, como os salários do funcionalismo público. Os gastos caem sem qualquer esforço do governo.

    "A inflação é um calote branco, porque corrói a renda das famílias e joga a conta da farra fiscal do governo nos ombros dos mais pobres", diz a economista Mônica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional.

    O IPCA já chegou a dois dígitos e, apesar dos prognósticos em contrário, continua subindo por conta do descontrole fiscal e da indexação. Só que ninguém fala seriamente que o Brasil corre, hoje, o risco de hiperinflação.

    Não há dúvida de que o país mereceu perder o grau de investimento, mas porque as agências de risco foram tão rígidas e o colocaram em companhia tão incômoda? É o efeito Dilma.

    A presidente ainda tem quase três anos de mandato e ninguém enxerga uma luz no fim do túnel sem uma mudança política. É essa incerteza em relação à retomada da economia que castiga o país com uma recessão de quase 4%. Nenhuma empresa investe se não tiver alguma perspectiva de retorno para o seu dinheiro.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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