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    Raquel Landim

    O PIB, a Lava Jato e a falta de confiança no governo

    03/03/2016 17h14

    Como num terremoto, tsunami ou outra catástrofe, é difícil identificar o que está mais assustador nos resultados do PIB de 2015, que caiu 3,8%, numa das piores recessões da história do país.

    A indústria está catando os pedaços após recuar 6,2% no ano. O imenso setor de serviços também foi afetado com uma baixa de 2,7%. O consumo das famílias, que por tanto tempo sustentou o crescimento, caiu 4%.

    O investimento recuou espantosos 14%. Talvez esse seja o pior indicador, porque os investimentos são uma aposta no futuro da economia. Só quem enxerga uma perspectiva melhor investe em máquinas e equipamentos, constrói um prédio ou compra uma casa nova.

    Na comparação do quarto trimestre de 2015 com o quarto trimestre de 2014, o tombo dos investimentos é de 18,5%. Ou seja, o problema se agravou no fim do ano.

    Os investimentos também são um termômetro da confiança no governo. Na última coluna, tratamos do "efeito Dilma" na economia, mostrando que a falta de confiança contribuiu para as agências de classificação de risco rebaixarem o Brasil ao nível de investimento especulativo.

    Uma queda dessa magnitude dos investimentos é um recado ainda mais evidente, desta vez vindo dos brasileiros: empresas, famílias, prestadores de serviços - ninguém acredita que a situação vai melhorar no médio prazo.

    Aos poucos está se cristalizando no país uma perspectiva de que nada muda até 2018, quando ocorrerão novas eleições. As previsões de PIB no ano que vem já chegam a queda de 3,5%. Para 2017, a expectativa, por enquanto, é crescimento baixo.

    Há razões econômicas e políticas para tanta desconfiança. O governo vem demonstrando que é incapaz ou não deseja mudar a política econômica. São muitos os sinais: ajuste fiscal pífio, inflação resistente, interrupção na alta de juros, troca do ministro da Fazenda.

    No front político, a Operação Lava Jato e a ameaça de impeachment tem forte impacto nos negócios. No mesmo dia em que sai os desastrosos resultados do PIB, os veículos de comunicação divulgam trechos da delação premiada do senador Delcídio Amaral, que parece ter força para comprometer o ex-presidente Lula e a presidente Dilma.

    As investigações tem que continuar e seus efeitos serão positivos no médio e longo prazo, mas, por enquanto, quem vai apostar suas fichas nesse governo e nesse país?

    A única esperança da economia hoje é reagir exportando mais. Pela primeira vez em nove anos, a demanda externa por produtos e serviços brasileiros subiu 2,7%, sem dúvida um alento, mas ainda longe de resolver o problema. Infelizmente as perspectivas para o futuro são sombrias.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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