• Colunistas

    Thursday, 02-May-2024 16:09:02 -03
    Raquel Landim

    A irresponsabilidade britânica

    24/06/2016 15h02

    A saída do Reino Unido da União Europeia é uma irresponsabilidade política e um suicídio econômico.

    Os britânicos que votaram a favor do "Brexit" não avaliaram as consequências e pensaram apenas em expulsar poloneses, tchecos, turcos etc.

    O argumento é que os imigrantes "roubam" empregos britânicos, mas não passa de mal disfarçado preconceito. Na maior parte dos casos, a imigração ocupa funções —garçons, faxineiros, babás, enfermeiros— que há muito tempo os ingleses não executam.

    Ao se preocupar apenas em frear a imigração, o Reino Unido deu um tiro no próprio pé, já que a Europa absorve mais de 50% das suas exportações.

    Isso significa que produtos e serviços britânicos devem voltar a ser taxados para entrar em 27 países, o que representa aumento de custo e perda de competitividade.

    Mesmo que os governos tentem minimizar os danos nas complicadas negociações para a saída que ainda estão por vir, o efeito será uma desaceleração da atividade no Reino Unido e em toda a já combalida Europa, com reflexos pelo mundo.

    A vitória do "Brexit" também é uma imensa irresponsabilidade política. Vai dar força a movimentos separatistas e à extrema direita em toda a Europa e até fora do continente europeu.

    O Reino Unido entrou na União Europeia em 1973, mas o bloco vem desde a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço criada após duas guerras mundiais.

    A ideia era superar o trauma por meio da integração, pondo fim a rivalidades históricas e garantindo a paz, apesar das dificuldades, o "sonho europeu" parecia ter se tornado realidade nas últimas décadas, com a queda do muro de Berlim, os sucessivos alargamentos do bloco e a introdução do euro.

    Os britânicos agora dão marcha à ré no processo, esquecendo que a xenofobia já deixou a Europa à beira do abismo.

    A esquerda progressista e os conservadores moderados do Reino Unido assistiram à vitória da extrema direita no plebiscito tão atônitos quanto o resto do mundo.

    Mas não deveria ter sido uma surpresa. Orgulhosos de sua cosmopolita capital, os "londoners" fecharam os olhos para o tratamento dos imigrantes, inclusive europeus, como cidadãos de segunda classe durante tempo demais.

    Graças a essa complacência e ao combustível fornecido pela crise econômica, a extrema direita ganhou um fôlego que nada foi capaz de deter —nem mesmo o assassinato de uma parlamentar às vésperas do plebiscito.

    Como mostra o comportamento dos mercados financeiros após a vitória do "Brexit", vamos todos pagar o preço, porque o mundo já está integrado.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024