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    Raquel Landim

    Com economia no rumo certo, cresce risco de 'acordão' na Lava Jato

    20/01/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O ministro Teori Zavascki, em sessão plenária mo STF
    O ministro Teori Zavascki, que relatava a Lava Jato

    Ainda é cedo para avaliar todos impactos para a Operação Lava Jato da trágica morte do ministro Teori Zavascki, mas é preciso estar atento a um "acordão".

    Vítima de um acidente aéreo nesta quinta-feira (19), Teori, relator do processo, estava perto de homologar a delação dos executivos da Odebrecht, com acusações contra dezenas de políticos.

    A tensão em Brasília é grande e já foi feita mais de uma tentativa de "estancar essa sangria" - expressão utilizada pelo senador Romero Jucá, aliado do presidente Michel Temer, para se referir às investigações.

    O episódio mais recente ocorreu no fim de novembro. Enquanto o país sofria com outro acidente aéreo, que matou os jogadores da Chapecoense, deputados e senadores desfiguravam um projeto de lei contra a corrupção na tentativa de intimidar juízes e o Ministério Público.

    Naquela época, alguns políticos chegaram a procurar empresários, pedindo que pressionassem os parlamentares sobre os quais tem influência para aprovar o pacote de medidas.

    Eles argumentavam que Temer tinha colocado a economia no rumo certo, mas que o Brasil precisava de estabilidade política para sair da recessão. E que isso só seria alcançado brecando a Lava Jato.

    A iniciativa foi barrada pela opinião pública, mas outras manobras podem surgir nas próximas semanas. E, paradoxalmente, o risco de "acordão" cresce à medida que a economia melhora.

    Os primeiros sinais de recuperação da atividade começaram a aparecer nas últimas semanas. Com a inflação sobre controle, o Banco Central intensificou o corte de juros, o que pode, ainda que lentamente, estimular o consumo.

    Depois de três anos de crise, parece ser uma questão de tempo para o país sair da recessão, se a instabilidade política não piorar por causa de novas revelações da Lava Jato que comprometam o governo.

    Por isso, é muito provável que a pressão para que o setor privado entre no "acordão" volte a aumentar. Com as vendas em queda e demitindo funcionários, alguns empresários já falam reservadamente que é preciso aplicar as punições cabíveis e encerrar a investigação, mas essa visão ainda não é consenso.

    Infelizmente, a morte de Teori, que vinha conduzindo o processo sem ceder a pressões, embaralha ainda mais o jogo e pode favorecer aqueles que preferem "estancar a sangria".

    Se for selado um "acordão", será um erro histórico. A Operação Lava Jato tem um efeito negativo de curto prazo sobre a economia porque provoca instabilidade, mas os benefícios de médio e longo prazos são muito maiores.

    A corrupção é um elemento importante do "custo Brasil", porque torna mais caro e complicado operar no país e afasta investimentos de companhias sérias que se recusam a desobedecer à lei.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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