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    Raquel Landim

    Os verdadeiros 'bobos da corte' são os contribuintes brasileiros

    03/03/2017 02h00

    Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress
    Empresário Marcelo Odebrecht, preso na Lava Jato, chega à sede da Justiça Federal, em Curitiba (PR), onde presta depoimento nesta quarta
    Marcelo Odebrecht chega à sede da Justiça Federal, em Curitiba (PR), para prestar depoimento

    Se o objetivo da prisão é que o indivíduo reflita sobre seu ato criminoso e se prepare para a ressocialização, Marcelo Odebrecht parece não ter aprendido nada nestes 21 meses em que está atrás das grades em Curitiba.

    Questionado pelo ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Herman Benjamin, que investiga a chapa Dilma-Temer, se dava ordens ao governo, ele disse que não se sentia o "dono do governo", mas o "bobo da corte" ou o "otário do governo".

    O empreiteiro se justificou dizendo que era convocado pelas autoridades para fazer as obras que não interessavam a ninguém, mas que eram politicamente importantes, como a Arena Corinthians ou a Vila Olímpica.

    O que ele parece ter esquecido de mencionar é o que recebeu em troca desses "mimos".

    Levantamento feito por esta Folha mostrou que o grupo Odebrecht pagou em R$ 16,9 milhões em doações a campanhas eleitorais e propinas a congressistas, mas lucrou pelo menos R$ 8,4 bilhões com a aprovação de duas medidas provisórias de seu interesse.

    Só para reforçar: esse lucro foi obtido com apenas duas medidas provisórias. É quase impossível calcular o tamanho do benefício econômico da Odebrecht e de outras construtoras pelas propinas e favores que faziam aos políticos.

    Marcelo Odebrecht, portanto, não tem nada de bobo, mas é preciso reconhecer que pode estar se sentindo um pouco "otário".

    Enquanto o empreiteiro deve permanecer preso até o fim do ano, os políticos que corrompeu ainda estão longe de pagar por seus crimes.

    Nesse caso, a culpa não é de Odebrecht, que terminou contando tudo o que sabia às autoridades em busca de uma delação premiada.

    As principais razões são o anacrônico foro privilegiado, a inexplicável morosidade do STF (Supremo Tribunal Federal), e a eficiência de alguns políticos para "estancar a sangria".

    Sempre criticada por sua falta de habilidade política, a ex-presidente Dilma Rousseff perdeu o mandato, mas a turma que acompanha seu vice Michel Temer vem demonstrando, mais uma vez, que é capaz de se safar de qualquer escândalo.

    O que Marcelo Odebrecht parece não ter entendido até agora é que os verdadeiros "bobos da corte" continuam sendo os contribuintes brasileiros, que sustentam com seus impostos a ganância de empresários e políticos inescrupulosos.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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