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    Raquel Landim

    A lei vale para todos, inclusive para Lula

    14/07/2017 02h00

    Nelson Antoine - 13.jul.17/Folhapress
    Ex-presidente Lula fala sobre a sua condenação na Lava Jato na sede do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo, nesta quinta
    O ex-presidente Lula fala sobre sua condenação na Lava Jato na sede do PT, em SP

    Ainda falta mais de um ano para as eleições, mas a mais recente pesquisa Datafolha mostra que Luiz Inácio Lula da Silva lidera a corrida presidencial de 2018 com 30% das intenções de voto.

    Sua rejeição também é alta, mas convenhamos que não é pouca coisa. Nesse cenário, parece um absurdo que três desembargadores tenham o poder de impedir um líder tão popular de concorrer.

    A Justiça, no entanto, vale para todos, inclusive para Lula. Se o ex-presidente for condenado em segunda instância, se tornará inelegível por causa da Lei da Ficha Limpa.

    Promulgada em 2010 por iniciativa da sociedade civil, essa legislação representa um enorme avanço institucional para o Brasil ao exigir que as pessoas que ocupem cargos públicos sejam honestas.

    Trocando em miúdos: a Lei da Ficha Limpa tenta acabar com o "rouba, mas faz", impedindo que os picaretas de sempre utilizem a máquina partidária e o poder econômico para se reeleger independentemente das barbaridades que fizeram quando estavam no poder. Não se trata de cercear o direito do eleitor, mas de moralizar a coisa pública.

    Não sou juíza para dizer se existem provas suficientes para condenar Lula ou não. Mas é fato que crimes de corrupção e colarinho branco deixam poucos rastros. Sempre é possível, mas acho pouco crível que o tríplex no Guarujá e o sítio em Atibaia não sejam "afagos" das construtoras para o ex-presidente.

    Da mesma forma que não acredito que Michel Temer não sabia da mala de dinheiro recebida por Rocha Loures, que Aécio Neves estava pedindo dinheiro emprestado a um amigo, que José Dirceu não sabia do mensalão ou que Fernando Henrique Cardoso desconhecia a compra de votos para aprovar a emenda da reeleição.

    A Lava Jato vem investigando impiedosamente todos os partidos, mas reconheço que a Justiça falha quando o ministro Gilmar Mendes articula abertamente para salvar Temer ou quando o ministro Marco Aurélio Mello permite que Aécio retome o mandato, apesar de tudo que ouvimos ele próprio dizer na gravação feita por Joesley Batista.

    Só que um erro não justifica o outro. Acabemos com o foro privilegiado, estabeleçamos novas regras de escolha dos ministros do STF, façamos o impeachment de magistrados que não honram o cargo que ocupam.

    O que não podemos fazer é rasgar a Lei da Ficha Limpa, nem mesmo para evitar uma convulsão ainda maior no país dada a força política de Lula.

    De novo: a lei vale para todos —Lula, Temer e Aécio. Ainda tenho esperanças que um dia o Brasil chega lá.

    *

    Estarei de férias nas próximas três semanas. Até agosto.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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