• Colunistas

    Wednesday, 01-May-2024 08:18:19 -03
    Raul Juste Lores

    O pior dos pontos de ônibus

    13/03/2013 13h02

    O pior dos novos pontos de ônibus de São Paulo não é o design desastrado, que não protege da chuva ou do calor, nem o teto baixo. O fato de estar "em implementação" (leia-se no improviso) pode até significar que joguem tudo fora e gastem mais um tanto até achar um novo modelo.

    O pior é a oportunidade desperdiçada com o uso da publicidade. A Cidade Limpa criou uma demanda enorme ao proibir outdoors por São Paulo. Qualquer anúncio ficou mais valioso após a restrição. Seis anos depois da "Cidade Limpa", o máximo que a Prefeitura conseguiu extrair do mercado sedento foi ter pontos de ônibus improvisado e relógios de rua que serão suportes de publicidade. Fazer caixa sem esforço levou a melhor.

    Barcelona fez sua "cidade limpa" nos anos 80. Depois de retirar 7.000 outdoors da capital catalã durante a década de 80, a prefeitura canalizou a demanda reprimida por espaços publicitários. Quem restaurasse uma fachada, poderia colocar seu logotipo na tela de proteção da obra por um ano.

    Barcelona recuperou 600 prédios históricos, inclusive alguns do Gaudí, usando recursos da publicidade.

    O paulistano Copan já poderia ter sido restaurado assim, se o nosso Cidade Limpa tivesse sido aprofundado, como foi em Barcelona com a campanha "Barcelona, posa't guapa" (Barcelona, fique mais bela, em catalão). Em seis anos sem anúncio nas ruas, não seriam poucas empresas que disputariam para poder estampar seus logos na lona do Copan, do edifício Anchieta, na Paulista com a Consolação (onde fica o Riviera), o Esther, na praça da República, o Eiffel e o Montreal, ambos também de Niemeyer, no Centro, entre tantos outros.

    Como nem todos os prédios históricos ficam em áreas de alta visibilidade, a campanha barcelonesa foi alterada nos últimos anos. Obras em grandes supermercados ou prédios corporativos também puderam ser embaladas com publicidade, desde que o patrocínio servisse ao restauro de construções relevantes. É como se prédios em construção da marginal ou na Vila Olímpia (zona oeste) cedessem o valor da publicidade estampada em suas lonas para o restauro de obras "escondidas" na região central.

    Barcelona fez então uma forte campanha de mídia para provocar a autoestima dos catalães pré-Olimpíada. Celebridades pediam adesão de grandes empresas na TV e nos jornais. Um convênio foi estabelecido com o Colégio de Arquitetos de Barcelona para que técnicos vistoriassem cada projeto de restauro antes da aprovação. Assim foram evitadas descaracterizações gratuitas dos projetos originais.

    Paredes cegas que antes eram ocupadas por outdoors foram tomadas por grafites e murais feitos por artistas plásticos. Houve verba até mesmo para retirar aparelhos de ar-condicionado de fachadas históricas. Mas isso foi na Barcelona inventiva de sempre.

    Já em São Paulo, cidade da implementação lenta e tabajara, no máximo, ganhamos pontos de ônibus que não foram objeto de um concurso de design, que não passaram por um estudo das necessidades dos usuários, que sequer apresentam o itinerário dos ônibus. Quanto será que custou tal improviso?

    Twitter: @rauljustelores

    raul juste lores

    É repórter especial. Já foi correspondente em Washington, Nova York, Pequim e Buenos Aires, e editor de 'Mercado'. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024