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    Denúncia de abuso sexual é motivada por ódio, diz religioso

    DA ENVIADA AO RIO GRANDE DO SUL

    20/07/2014 02h03

    Após a missa para um templo quase vazio, João Marcos Porto Maciel -dom Marcos- falou à Folha sobre as denúncias de pedofilia. Depois de três décadas de silêncio, o empresário Marcelo Ribeiro, 48, decidiu acusar publicamente o religioso de abusar sexualmente dele dos 12 aos 15 anos .

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    Folha - O que o senhor tem a dizer sobre as acusações de seu ex-aluno Marcelo Ribeiro?
    Dom Marcos - Ele está motivado por um grande ódio. É vingança. Vejo que se insurgiu e começou a me caluniar. Procurou colegas para aderirem. Eles disseram: 'Não. Nós nunca vimos nada disso'. Ele se confunde todo no próprio livro. Diz que foi abusado desde os 9 anos, depois aos 14. [Ribeiro diz que o assédio começou aos 9 anos, e a primeira relação sexual aconteceu aos 12 anos].

    Pretende processá-lo?
    Não vale a pena. É tanta bobagem e diz que diz.

    E os traumas?
    Ele não tem trauma porque não teve abuso. Se era abusado, por que veio comigo para o Sul? Gostou da marmelada.

    E a denúncia do violoncelista Alexandre Diel à Folha?
    Tem casos que não posso narrar na minha condição religiosa. Em um coral com 60 e poucos meninos acontece de tudo um pouco. Eles transformam tudo em tragédia.

    Por que homens adultos estão vindo a público acusá-lo?
    Porque é moda. Pedofilia dá status. Esse Marcelo escreve anonimamente para cá e me chama de "vovô gagá". O Alexandre é uma pobre alma. Cometeu erros e estragou as coisas por infantilidade.

    Existe pedofilia na igreja?
    Apareceu tarde a pedofilia na igreja. Com os espartanos, aos cinco anos eles tinham que levar uma surra por dia e fazer sexo com outro para aprender. Mas é uma situação delinquente. Trabalhei 50 anos com meninos e afastei os que foram pegos.

    E sexo de um adulto com uma criança do coral?
    Dos adultos irem pra esse lado sempre houve. Agora, com padres me chama muito a atenção. São pessoas preparadas, inclusive psicologicamente, para enfrentar o celibato. Abusar de meninos e meninas? Não vejo sentido.

    O celibato é um fator?
    Creio que não. Tem pastores evangélicos casados que sofrem do mesmo problema. Quando querem ser sem vergonhas, são. Nem a melhor esposa segura um homem dado à pederastia. É de época. As pessoas se depravaram.

    Que conduta o senhor prega entre os seus monges?
    Para entrar aqui deve ser uma pessoa preparada para a castidade. Já vieram vários que tinham maus costumes na homossexualidade. Mandou-se pra casa tão logo se descobriu. Estamos em poucos porque a maioria que quer vir para os mosteiros é dessa linha. Aqui não é casa para vir deitar com ninguém.

    Que balanço faz do seu trabalho como maestro?
    Pela quantidade de meninos que passaram pelas minhas mãos, uns 8.000, 10 mil meninos, acho que é muito pouca lambança isso aí. Tem um saldo muito bom. As denúncias são fichinha, em vista das coisas boas.

    Marlene Bergamo/Folhapress
    João Marcos Maciel em sua igreja em Caçapava do Sul (RS)
    João Marcos Maciel em sua igreja em Caçapava do Sul (RS)

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    A TRAJETÓRIA DO RELIGIOSO

    1958
    Ingresso no instituto dos Oblatos Diocesanos de Buenos Aires

    1963 a 1968
    Dirige o coral de Meninos Cantores da Catedral Frederico Westphalen (RS)

    1969 a 1971
    Estudos na Alemanha e estágios em corais europeus

    1975 a 1980
    Maestro do coral Os Bem-te-vis da Catedral da Sé, em Diamantina (MG), que excursiona pelo país

    1981 a 1986
    Regente do coral da Catedral de Novo Hamburgo

    1984
    É ordenado sacerdote

    1998
    Funda a Ordem de Santa Cecília, em Caçapava do Sul, sua cidade natal, em terreno que ganhou de herança

    2009
    Deixa a Igreja Católica. O mosteiro se torna Abadia Anglicana de Santa Cecília e ele, seu bispo e abade

    2014
    A ordem passa a se declarar "veterodoxa" e segue a doutrina do papa Gregório Magno, do século 6º

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    por Eliane Trindade

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    É editora do Prêmio Empreendedor Social. Aqui, mostra personagens e fatos dos dois extremos da pirâmide social. Escreve às terças, a cada duas semanas.

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