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    Rede Social - Eliane Trindade

    Resolução de Ano-Novo: acessar e postar com moderação

    06/01/2015 03h00

    A única rede disponível era aquela "preguiçosa pra deitar". Passar alguns dias completamente desconectada entre o Natal e o Ano-Novo foi o ápice de um processo de desintoxicação que me autoimpus após a Copa do Mundo e as eleições, tempo de emoções fortes nas redes sociais.

    Passei os últimos dois meses numa espécie de quarentena, após uma overdose de verdades absolutas vomitadas na minha timeline do Facebook, um desinteresse crescente pelos "looks do dia" das blogueiras e deslumbrados em geral no Instagram e um desejo profundo de me afastar do toma-lá-dá-cá verbal do Twitter.

    De folga do trabalho por alguns dias, pude me livrar também da obrigação profissional de perscrutar as redes sociais em busca de pautas e notícias. Um "dolce far niente" sem wi-fi nem 3G à mão.

    GUERRA FRIA

    Minha exaustão vinha desde o período eleitoral, quando vi um novo "Muro de Berlim" de ignorância e intransigência se erguendo em posts e tuítes raivosos entre "amigos" e seguidores. Fui me cansando da reedição de uma Guerra Fria digital, bastante acalorada nas palavras, anos depois de os teóricos darem por encerrada a dicotomia direita e esquerda.

    Chatice contrabalançada por lampos de inteligência, pitadas de bom senso e tiradas de humor, aqui e ali. Mas, infelizmente, ao final de cada passeio virtual, acabava sempre concluindo: "A humanidade não deu certo".

    Passei a evitar encontros nessa imensa e superpovoada praça virtual. Fugia do desfile de preconceitos e ansiedades que tantos promovem, sem o menor pudor, em seus perfis públicos na internet, em um exercício contínuo de "vergonha alheia".

    Espero ansiosamente que estudiosos da mente e do comportamento humano comecem a se debruçar sobre as redes sociais e possam dar respostas para tanta exposição voluntária de egos e paranoias, individuais e coletivas.

    Tenho ouvido cada vez mais de amigos a mesma ladainha: "Cansei do Facebook", "Estou dando um tempo do Twitter". Não estou só.

    Não sou radical. Continuo entrando no Facebook, por exemplo, para me lembrar dos aniversariantes do dia e postar links que julgo interessantes. Volta e meia curto alguma coisa, mas em silêncio, sem interagir.

    Para não dizer que me tornei antissocial no mundo digital, fiz um post para desejar feliz Ano-Novo à galera, via Facebook, e só.

    O bode deve passar após uma faxina necessária no lixo acumulado no "disco rígido" mental, depois de prolongado mergulho voluntário nas redes sociais.

    SINTOMAS DE PATOLOGIA

    O perigo maior para internautas, dizem, é se tornar compulsivo e acabar se desconectando do mundo real, tanto que já existe diagnóstico para o uso patológico da internet. Foram listados por estudiosos do novo fenômeno os dez "sintomas" que dão o alerta de que o usuário virou adicto. São eles:

    1. A primeira e a última coisa que você faz no dia é checar o Twitter, Facebook ou Instagram?
    2. Você entra em desespero se não encontra uma rede?
    3. Sente-se nu ou desprotegido quando acaba a bateria ou esquece o celular?
    4. Manda mensagens enquanto dirige?
    5. Uso o smartphone enquanto caminha?
    6. Faz o check-in em suas conta em todos os lugares que vai?
    7. Cada intervalo entre atividades usa para checar as redes?
    8. Fica deprimido se não tem curtidas ou retuítes?
    9. Deixa a comida esfriar no prato para fazer uma foto e postar?
    10. Prefere a vida nas redes sociais do que a na vida real.

    DEPENDÊNCIA OU FASTIO?

    O meu mal-estar não se enquadra nos sinais acima. O que me aflige tem mais a ver com o conteúdo do que com hábitos ou hiperconectividade. Não é dependência. É fastio.

    Não me deprime ficar sem acessar o meu perfil (ou melhor, me alivia) ou não ter "likes" numa foto (há muito que não posto uma imagem pessoal), mas, sim, o modo como se interage nas redes sociais.

    Estou me desintoxicando da verborragia inútil e da agressividade de gente que despeja ira e preconceitos em posts próprios ou comentando os alheios e acha que está "trocando opinião". Não quero tomar parte desse diálogo de surdos, contínuo e improdutivo, pois no fundo não há troca, a não ser de insultos.

    COM MODERAÇÃO

    Eu me reconectei 100% no domingo à noite, pois voltava a trabalhar nesta segunda, e fiz o giro obrigatório pelas minhas contas no Instagram, Facebook e Twitter.

    Depois de responder mensagens que se acumularam "in box", confesso que foi uma delícia passear pelas fotos de amigos em viagem pelo Japão e pelo Salar de Uyuni, na Bolívia, a maior planície de sal do mundo.

    Achei divertido também alguns posts sobre o modelito "pamonha amarrada" usado pela nova ministra Kátia Abreu na posse. Preferi, contudo, não ir fundo nos comentários. Ainda é cedo para mergulhar em preconceitos, machismos, petismos, anti-petismos e outros tantos ismos, também prejudiciais à saúde, em postagens que deveriam vir com o aviso: "Acessar e postar com moderação". Taí uma boa resolução de Ano-Novo.

    rede social

    por Eliane Trindade

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    É editora do Prêmio Empreendedor Social. Aqui, mostra personagens e fatos dos dois extremos da pirâmide social. Escreve às terças, a cada duas semanas.

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