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    Rede Social - Eliane Trindade

    A patrulha ideológica chega ao guarda-roupa e sai do armário

    29/03/2016 02h00

    Quem diria que o "red Valentino" está démodé por aqui. Logo a cor púrpura que o estilista italiano transformou em sinal máximo de glamour no tapete vermelho.

    Já o amarelo virou o novo pretinho básico dos protestos a favor do impeachment e dos indignados de plantão, que elegeram uma das cores da bandeira como a mais fashion da temporada Brasil em crise.

    Ou seja, a patrulha político-ideológica chegou ao guarda-roupa, impondo um "dress code" para o dia a dia dos brasileiros nesses tempos de acirramento de posições.

    A cor rubra é definitivamente a mais quente da estação desde que passou a ser proibida em determinados circuitos.

    Vide constrangimentos a que foram submetidos quem ousou desfilar em determinados círculos Brasil afora com roupa ou acessório vermelho.

    Pessoas comuns e militantes pró-Dilma narram nas redes sociais como foram hostilizados.

    Nem um cãozinho escapou da patrulha fashion em torno da cor da bandeira do PT e também da Revolução Russa, sempre associada a partidos e movimentos de esquerda em todo o mundo.

    E assim começamos a nos deparar com relatos em que "o que vestir" ou "que cor usar" passou a ser uma questão importante.

    A paleta de cores se torna ainda mais restrita em dias de manifestação.

    Em 13 de março, dia do ato a favor do impeachment, sair de casa de camiseta vermelha podia ser interpretado como sinal de guerra, de afronta.

    Assim como na sexta-feira, 18, dia de passeata pró-Dilma, usar a camiseta amarela da CBF, antes reservada para torcer pela seleção canarinho, podia ser interpretado como provocação.

    Um torcedor do Náutico relatou no Facebook ter sofrido constrangimento na padaria por envergar as cores alvi-rubras do seu time, em dia de clássico contra o rival Santa Cruz.

    Houve quem relatasse ter sofrido assédio moral de chefes que "pediam" aos subordinados para vestirem preto, em sinal de luto, pela nomeação de Lula como ministro da Casa Civil.

    Com tantos personal stylists da crise, restou a opção de apelar para o branco, sinal de paz, como se sair às ruas fosse equivalente a se aventurar na área reservada à torcida adversária neste interminável Flá-flu nacional.

    Quando a intolerância sai do armário é hora de parar e refletir sobre o ridículo do patrulhamento do guarda-roupa alheio.

    Já me recordo com nostalgia do tempo em que o questionamento "Com que roupa eu vou?" era meramente uma questão de estilo.

    Portanto, sintam-se livres para envergar o seu modelito "coxinha" ou "petralha" nessa imensa passarela das ruas onde se joga o destino do Brasil.

    O verdadeiro manifesto não é a roupa que você usa, mas a nação que se quer construir.

    Elegante mesmo é ser livre para poder usar todas as cores do arco-íris sem sofrer intimidação de qualquer natureza.

    Que a tolerância seja o novo pretinho básico, o "must have" da temporada.

    rede social

    por Eliane Trindade

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    É editora do Prêmio Empreendedor Social. Aqui, mostra personagens e fatos dos dois extremos da pirâmide social. Escreve às terças, a cada duas semanas.

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