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    Rede Social - Eliane Trindade

    Área do palacete era ocupada por esqueleto de obra de Oscar Niemeyer

    31/01/2017 02h00

    Após 11 anos paradas, as obras do Palácio Tangará foram retomadas há três anos, quando os proprietários fecharam um contrato de 25 anos com o grupo Oetker para um hotel de luxo na área.

    O terreno foi adquirido pelo fundo americano GTIS Partners. Em 2013, os investidores pagaram R$ 45 milhões à Previ pelos 49% da área e compraram também os outros 51% pertencentes à Incorporadora Birmann.

    Com sede em Nova York, o GTIS anuncia em seu site ter mais de US$ 1 bilhão investido em projetos imobiliários no Brasil. João Teixeira, diretor do escritório de São Paulo, foi vice-presidente da Birmann, que figurou entre as cinco maiores incorporadoras locais até falir, nos anos 2000.

    Em seu currículo no site do GTIS, Teixeira é apresentado como fundamental para colocar de pé vários empreendimentos comercias e residenciais, "incluindo mais de 15 edifícios no pioneiro projeto de condomínio de luxo Panamby".

    O loteamento da antiga chácara Tangará só foi aprovado em 1994. Durante 50 anos, a área de 438.000 m² ficou preservada dentro do espólio do industrial e playboy Baby Pignatari, até ser adquirida pela Birmann e pela Lubeca S.A. Empreendimentos.

    Na divisão das glebas entre os sócios, o terreno do futuro Palácio Tangará ficou com a Birmann, que decidiu erguer um hotel no local em que Pignatari iniciara a construção de uma casa de 8.000 m² desenhada por Oscar Niemeyer com jardins de Burle Marx.

    A residência modernista não foi concluída em razão do divórcio, em 1957, do playboy que tem entre suas conquistas posteriores a princesa Ira de Fürstemberg. Na década de 1990, o esqueleto de concreto do projeto de Niemeyer foi demolido. Nos anos 2000, começaram as obras do Palácio Tangará.

    CRÍTICAS

    "Os jardins de Burle Marx foram restaurados, mas no lugar de uma significante obra de Niemeyer e da arquitetura moderna brasileira foi construído um pastiche neoclássico", diz o historiador Carlos Fatorelli, morador de Santo Amaro, que participou do embate com ambientalistas para preservação da área verde.

    Rafael Birmann, presidente do conselho da Fundação Aron Birmann, rebate as críticas. "Não se trata de um pastiche, mas de estilo eclético e agradável", diz o empresário, que contratou o escritório americano WATG Architects para o primeiro projeto do palacete, finalizado pelo B+H Architects, do Canadá. "O modernismo de concreto e laje também não agrada a todos."

    O estilo neoclássico floresceu ao redor em empreendimentos de alto padrão que levam o nome de Panamby ou Tangará, pássaro que é atração do parque que sobreviveu à especulação imobiliária.

    VALORIZAÇÃO

    Na negociação do parcelamento da área junto à Prefeitura de São Paulo na gestão Luiza Erundina (1989-1992), o parque foi uma das contrapartidas, assim como a recuperação dos jardins projetados por Burle Marx e a preservação da mata ao redor de uma nascente.

    A destinação de parte da gleba para a instalação de um parque público acabou se tornando um dos grandes atrativos imobiliários do Panamby.

    Os agentes imobiliários passaram a anunciar seus lançamentos no local como "a mais bela reserva verde da cidade", conforme destaca a geógrafa Daniella de Almeida Barroso, em um estudo intitulado "O verde como estratégia de valorização imobiliária: a formação de um projeto urbanístico em São Paulo".

    Ela é autora também da tese de mestrado Projeto urbanístico Panamby: Uma 'Nova Cidade' dentro de São Paulo - análise do parcelamento e loteamento da Chácara Tangará, defendida em 2006 na USP.

    Procurada pela Folha, ela não quis dar entrevista sobre a inauguração do Palácio Tangará.

    Para Rafael Birmann, o antigo incorporador da área, a simbiose entre hotel, empreendimentos e parque é um marco. "Que outro loteamento foi feito com uma doação de 140 mil m² de área verde para a cidade?", questiona.

    O modelo de gestão do parque Burle Marx, no entanto, também é questionado. "Considerado patrimônio público, o parque é administrado como privado e é cartão postal do projeto urbanístico Panamby", afirma Fatorelli.

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    por Eliane Trindade

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    É editora do Prêmio Empreendedor Social. Aqui, mostra personagens e fatos dos dois extremos da pirâmide social. Escreve às terças, a cada duas semanas.

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