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    Reinaldo Figueiredo

    Vídeo games de alto risco

    13/12/2017 02h00

    No domingo passado, na gigantesca Comic Con Experience, vivi uma experiência. Tentando escapar da multidão de cosplayers, aqueles caras fantasiados de heróis e vilões, que avançavam para cima de mim com suas armas de plástico e papelão, fazendo demonstrações dos seus superpoderes, acabei me refugiando numa área menos movimentada do evento e entrei num corredor estreito, com alguns estandes menores.

    Num deles, meio abandonado e sem visitantes, vi um senhor de terno, andando de um lado para o outro, com o semblante sombrio. Cheguei perto dele e, por um momento, ele ficou animado, achando que eu era um possível cliente para seus produtos. Foi aí que eu notei a placa que identificava o estande: "Fábrica de Vídeo Games Santa Genoveva". Expliquei que só tinha chegado ali porque estava fugindo de um bando de cosplayers e então fiquei sabendo que ele era o CEO daquela empresa. E ele me contou a sua história.

    Há algum tempo, seu filho vinha tentando convencê-lo de que seria uma boa ideia abrir uma empresa de vídeo games. Depois de muita insistência, ele finalmente concordou, mas disse ao filho que aquela seria uma sociedade em que ele teria poder decisório. Ele seria o empreendedor que entraria com o capital, mas também participaria conceituando os produtos, definindo os conteúdos, e começou logo sugerindo os primeiros games que seriam desenvolvidos.

    Reinaldo Figueiredo/Folhapress

    E esse era o motivo de seu atual problema. A Fábrica de Vídeo Games Santa Genoveva tinha apostado todas as fichas em três lançamentos diferenciados. Um deles era "Gandhi: Non-Violent Revolution!", o outro era "Martin Luther King: Resistência Pacífica Radical" e o terceiro era "Mandela: Extreme & Ultimate Pacifism". Consternado, o pobre CEO me disse que, devido ao pouco interesse do consumidor, esses lançamentos seriam imediatamente descontinuados e que o filho dele tinha saído dali direto para uma reunião de emergência com seus game designers.

    Eu quis saber por quê eles não teriam atingido o seu público alvo e ele me respondeu, um pouco transtornado: "Não sei... Não sei exatamente o que aconteceu! Esses jogos foram desenvolvidos para proporcionar ao nosso público-alvo uma experiência gratificante e diferenciada, mas agora está me dando vontade de pegar um fuzil AR-15 e sair por aí atingindo o nosso público-alvo bem na testa!".

    Depois, um pouco mais calmo, me explicou que seu filho ia pedir para os desenvolvedores começarem a trabalhar "full time" numa outra ideia que ele tinha dado. Assim que for possível, eles vão lançar no mercado um novo produto, o "AFRC: Atropelamento e Fuga com Requintes de Crueldade".

    reinaldo figueiredo

    Reinaldo Figueiredo é humorista e cartunista brasileiro, conhecido por integrar a equipe do 'Casseta & Planeta', na TV Globo. Escreve às quartas.

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