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    Reinaldo Azevedo

    PT tucano e PSDB petista?

    25/09/2015 02h00

    Li uma reportagem que vinha carregada daquela indignação cívica de que só os petistas que não ousam dizer seu nome são capazes, informando que o PSDB, em cujo governo foi aprovado o fator previdenciário, votou em massa, com uma exceção, pela derrubada do veto de Dilma. Essa seria a evidência da sua incoerência.

    Pois é... A simples lembrança de que a presidente pertence a um partido que sempre se disse contrário àquele expediente -embora nunca tenha tentado extingui-lo em 13 anos de governo- deveria bastar para que o petista no armário mudasse de assunto. Se ele quisesse ficar naquela retórica nem-nem tão comum na nossa imprensa, poderia ao menos concluir que nem petistas nem tucanos são coerentes nessa matéria.

    E seria, ainda assim, um juízo torto porque ignora o peso da história. Sim, é verdade que as agendas do PT -se o PT fosse sinônimo de Dilma- e do PSDB, aparentemente ao menos, estão trocadas. Um idiota da objetividade concluiria que os tucanos, ao longo de sua trajetória, foram fanaticamente populistas, jamais se ocuparam do equilíbrio fiscal e, em nome do aplauso, jogaram na lata do lixo a matemática. Já os petistas, ao contrário, não temem a impopularidade. Se a conta não fecha, põem a contabilidade acima das generosidades.

    Alguém identifica o PSDB com esse retrato? Alguém reconhece nos traços que vão acima o perfil do PT?

    O petismo tentou inaugurar na política, já escrevi certa feita, o presente eterno. Pouco lhe importam compromissos, promessas, valores e até ideologia -desde que as escolha sirvam para fortalecer o ente de razão destinado a tomar o lugar da sociedade.

    Foram poucos os que apontaram as contradições dos companheiros no primeiro mandato de Lula, quando seguiu, em linhas gerais, a cartilha deixada por FHC. Busca-se o selo de "partido sério". Na segunda gestão do
    Babalorixá de Banânia, e foi quando ele atingiu o cume da popularidade, Guido Mantega começou a praticar suas heterodoxias incompetentes. E arrematou suas bobagens no primeiro mandato de Dilma.

    Entre 2011 e 2014, o PT foi, digamos, absolutamente petista. Entre 2003 e 2006, mesmo seguindo a cartilha do adversário e antecessor, Lula criou a mentira da herança maldita; entre 2007 e 2010, enfiou o pé nas generosidades sem lastro e elegeu a sua sucessora, que acelerou as irresponsabilidades do mestre e levou o Tesouro à insolvência.

    Ao longo de 12 anos, as críticas e óbices às escolhas do partido foram relegadas pela companheirada ao ridículo. A bomba da inflação renitente que se armava -e notem que ela insiste em ficar entre nós, mesmo com uma recessão de quase 3%- era o Santo Graal do modelo petista. Dilma chegou a oferecer aos europeus, em 2012, num seminário na França, o modelo brasileiro como alternativa à falta de criatividade dos alemães, que insistiam na austeridade fiscal. Sim, Dilma quis ser a professora de Angela Merkel.

    O que a presidente e os petistas esperavam que fizesse o PSDB, que perdeu há 11 meses a eleição justamente para o modelo mágico dos companheiros? Que os ajudasse a governar? Na segunda, Lula comandou uma reunião de um tal "Conselho Político" do PT. Que censurou a política econômica do governo.

    Ah... Dilma levou um mandato combatendo a austeridade, certo? Agora ela quer a austeridade? Então devolva o mandato! Sou apenas um ser lógico.
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    reinaldo azevedo

    Jornalista, é colunista da Folha e autor de um blog na RedeTV!. Escreveu, entre outros livros, 'Contra o Consenso' e 'O País dos Petralhas' e 'Máximas de um País Mínimo'.
    Escreve às sextas-feiras.

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