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    Reinaldo Azevedo

    Acordão Temer-FHC-Lula é ficção que Inflama até os indignados sem causa

    14/04/2017 02h00

    Ah, caros leitores! Mesmo escrevendo colunas, é preciso correr algum risco, não? Ou sobra pouco além de tédio ou vodca. Li nesta Folha, na quinta (13), que "Temer, Lula e FHC articulam pacto por sobrevivência política em 2018". E aí pensei com os meus olhos jamais cansados: "Que bom! Talvez haja algum futuro e não tenhamos de ficar à mercê de neófitos fundamentalistas e entusiasmados".

    Meu ânimo logo esfriou ao ler o texto. Com a caneta na mão –sim, no impresso; sou como o diabo: antigo–, resolvi grifar aquelas que seriam as medidas concretas do pacto. E lá se encontravam a cláusula de barreira e o fim das coligações proporcionais.

    Ora, esses dois mecanismos estão presentes em todas as propostas de reforma política razoavelmente decentes, uma vez que se trata de corrigir, literalmente, uma indecência (a coligação proporcional) e uma vigarice: a geração de partidos por cissiparidade ou partenogênese. Leiam texto da Agência Câmara de 5 de dezembro de 2012, que traz os pontos da reforma que o então Todo-Poderoso PT queria. 2012!!!

    Há em Banânia, que rebatizei de "Findomundistão", certa dificuldade de fugir daquela falácia lógica que a Escolástica já discriminava: "post hoc ergo propter hoc". Ou: "Depois disso; logo, por causa disso". O fato de um evento "Y" suceder ao "X" não faz de "X" causa de "Y". Não duvidem nunca! Primeiro canta a o galo; depois, o dia amanhece. Sei bem o que, criança caipira (do mato) e insone, sofri. Antes de cantar, o bicho bate as asas três vezes. Terrorista! Ainda que eu matasse todos os galos das vastas solidões, o dia romperia com fúria. Desculpem a demonstração algo rural e pessoal de uma falácia.

    Busco outros elementos a indicar, então, que um grande acordão estaria em curso. E encontro lá outras possibilidades: anistia ao caixa dois, um novo modelo para o financiamento de campanha e até relaxamento de prisões preventivas. Já chamei aqui a anistia ao caixa dois de "A Loura do Banheiro" da política. Juram que existe, mas ninguém viu. Atenção! Essa questão é mais grave do que parece porque remete à essência de uma barafunda em curso, ignorada pela imprensa, obcecada pela... Loura do Banheiro.

    Se o MPF não apontar a contrapartida oferecida pelo político para o caixa dois, pretende denunciar os políticos aos tribunais segundo qual tipo penal? Resposta: os senhores procuradores exigem, ao arrepio da lei, que o dito "recurso não-contabilizado" seja, por si, sinônimo de corrupção e lavagem. E isso é falso. Vocês viram a insistência de representantes do MPF para que Benedicto Júnior, ex-Odebrecht, revelasse que agrado Geraldo Alckmin havia feito à empreiteira em troca do alegado caixa dois? O executivo disse e insistiu: nenhum! Um procurador ficou meio zangado.

    Há seis meses para definir as regras da eleição de 2018. As empresas não podem doar. As pessoas físicas não comparecem. O crime organizado é a alternativa, a exemplo do que se viu nas eleições de 2016. Ora, o financiamento público, no caso, não é questão de gosto. É da natureza do sapo. É uma necessidade. E, se for público, pelo menos para 2018 (já se pode mudar para 2022 ou mesmo as eleições municipais de 2020), o voto tem de ser em lista –ou alguém aponte alternativa. E parem de chamar a coisa de "lista fechada". Seriam listas escancaradas.

    Não tenho noção do que significaria "relaxamento de prisões preventivas". Embora ignorado, quem trata do assunto é o Artigo 312 do Código de Processo Penal. Seria mudado? Ou juízes entrariam numa conspirata para libertar os presos?

    Questões de mero bom senso ganham ares de arranjo escuso. Dias obscuros! Eu, na verdade, temo, então, que o "Arranjão de Itararé" não aconteça. E, aí sim, rumaremos, vestidos de verde e amarelo e empunhando a bandeira da Justiça e da moralidade jacobina, para o "Findomundistão". E sem nem um Delacroix para lembrar que a liberdade pode ser farta, generosa, sensual.

    reinaldo azevedo

    Jornalista, é colunista da Folha e autor de um blog na RedeTV!. Escreveu, entre outros livros, 'Contra o Consenso' e 'O País dos Petralhas' e 'Máximas de um País Mínimo'.
    Escreve às sextas-feiras.

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