BRASÍLIA - O gigantismo da Lava Jato gerou um efeito colateral curioso. A sequência de prisões, buscas e apreensões de documentos e divulgação de parte da papelada e dos depoimentos tomados até agora acabou criando uma espécie de legião de esquecidos pelo caminho.
Pouco tem se falado, por exemplo, dos grandes empreiteiros, políticos e ex-dirigentes da Petrobras que continuam encarcerados no Paraná.
O conteúdo dos documentos que aparecem diariamente e o surgimento de novos personagens no esquema acabaram escondendo a turma que já ficou em evidência um dia.
A figura mais sumida até o momento é o petista Delcídio do Amaral. Preso desde o final de novembro, o ex-líder do governo no Senado segue enclausurado no Quartel da Polícia Militar do Distrito Federal, para onde foi transferido depois de uma primeira temporada na Superintendência da PF em Brasília.
O sumiço, entretanto, não significa que o petista perdeu protagonismo na trama ou que permanecerá em silêncio pela eternidade.
Vários documentos foram apreendidos pela polícia na casa e no gabinete do senador. O pouco do que foi revelado até agora dá mostras do tamanho da encrenca que o petista pode criar se resolver aderir ao bloco dos delatores premiados.
Como revelou o jornal "Valor Econômico", um dos papéis em poder da PF mostra que o esquema de propina também foi operado no governo Fernando Henrique Cardoso. O pixuleco tucano, segundo relato do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, é nada desprezível –US$ 100 milhões.
Delcídio tem clara ascendência sobre o amigo, seu subordinado na direção da petroleira entre 1999 e 2001. Como operador do esquema, Cerveró sabe muito e já mostrou isso. Delcídio, por certo, sabe mais, bem mais.
O que os papéis do senador "contaram" até agora é promissor. Se o petista romper o silêncio, deixará o rol dos esquecidos em grande estilo.