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    Ricardo Araújo Pereira

    Estudos fazem mal à saúde

    01/09/2017 02h00

    Para mim foi nesta quarta-feira, quando o site do "Globo" publicou a notícia: "Estudo sugere maior consumo de gordura e menos ingestão de frutas e legumes". Chega. Podem parar de estudar, porque eu vou comer o que eu quiser e fumar um charuto a seguir.

    Não aguento mais: no momento em que eu levo à boca um alimento elogiado por um estudo sai outro estudo que recomenda que eu coma outra coisa. É como ter 27 mães diferentes, cada uma com uma opinião sobre a minha alimentação.

    Cada nutriente tem um estudo que o louva e um estudo que o critica. Essa é a conclusão de um estudo que eu levei a cabo sobre estudos.

    Um estudo da Universidade da Califórnia, em 2016, indica que os antioxidantes do vinho são benéficos para mulheres com ovários policísticos; outro estudo do Fundo Mundial para Pesquisas sobre Câncer, em 2017, revela, segundo a BBC Brasil, que "meia taça de vinho por dia já eleva risco de câncer de mama". A leitora tem pela frente a decisão difícil: deseja morrer dos ovários ou da mama? Escolha rápido, para eu saber se vou buscar o saca-rolhas.

    Luiza Pannunzio Editoria de Arte/Folhapress

    Em 2016, a "Veja" dizia: "Gordura saturada faz mal à saúde, confirma estudo"; anteontem, a mesma "Veja" informava: "Sim, gordura faz bem para a saúde. Com o passar do tempo, as gorduras, inclusive a saturada, perderam o posto de vilãs da dieta". Passaram apenas alguns meses.

    Que vilão se reabilita tão depressa? Quem foi que, no espaço de um ano, convenceu as gorduras a abandonarem o lado negro e a juntarem-se ao bem, e por que é que o autor da proeza não protagoniza ainda uma série da Marvel, convertendo os bandidos de Gotham City com o mesmo método não violento?

    O óleo de coco fez o percurso inverso: durante três meses foi excelente; agora pertence ao número de substâncias que conspiram contra nós. No caminho, deve ter-se cruzado com os ovos, que eram perigosos na minha infância e agora são muito nossos amigos.

    E a cerveja comprou passagem de ida e volta. "Superinteressante "em 2016: "Beber cerveja protege o cérebro contra o Alzheimer"; "O Globo" em 2017: "Mesmo o consumo moderado de álcool pode prejudicar o cérebro, indica estudo".

    À cautela, os leitores de estudos devem cingir-se a ingerir apenas água –mas de garrafas diferentes, porque beber sempre a mesma pode viciar o organismo numa determinada mineralização. Segundo estudos, claro.

    ricardo araújo pereira

    É humorista português e um dos criadores do coletivo Gato Fedorento, referência humorística em seu país. Escreve aos domingos.

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