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    Ricardo Melo - Ricardo Pereira de Melo

    Onde mora o perigo

    11/05/2015 02h06

    Bom dia! Como está o seu café da manhã? A manteiga já deu lugar à velha margarina? Os planos de viajar nas férias estão de pé? A conta de luz subiu assustadoramente? A faculdade do filho ficou inviável por falta de financiamento?

    Já sei: casa própria, agora só para os netos; está cada vez mais difícil conseguir empréstimo.

    Cartão de crédito, nem pensar. Com esses juros que não cessam de subir, o negócio é apertar o cinto. Até o bilhete da loteria ficou mais caro, e o prêmio emagreceu.

    Mais do que a indicação de um novo nome para o Supremo Tribunal Federal, a conquista de votos para apertar o garrote nos gastos públicos e as negociações para segundo, terceiro e quarto escalões –mais do que tudo isso, as condições de vida da maioria esmagadora da população deveriam ocupar a agenda de quem se credencia a governar o Brasil.

    Não é o que se vê.

    A cada momento, uma nova má notícia é oferecida ao público que esperava dias melhores. Os juros decolam.

    O Fies definha. Enquanto o desemprego cresce, as regras de proteção aos demitidos tornam-se mais severas.

    O sonho de comprar imóvel vira pesadelo com as novas taxas da Caixa Econômica e do Banco do Brasil. Minha Casa, Minha Vida atualmente vale tanto quanto um slogan eleitoral de ocasião, e nada mais do que isso.

    As demissões vêm a galope. O pé no freio das montadoras indica um efeito dominó que não se sabe onde vai parar.

    A crise na Petrobras engessa uma parte significativa do PIB nacional; é como se a sede do Ministério da Fazenda tivesse se transferido de Brasília para o Paraná.

    E o governo de turno assiste a tudo isso com uma mistura de empáfia e desorientação. Cancela pronunciamentos em dias-chave, vide o 1º de Maio, foge de cerimônias oficiais como prisioneiro em um bunker, evita contato com o povo.

    Ah, mas a propaganda na televisão pode resolver o problema.

    Não se sabe se é o caso de chorar ou de rir, ou de chorar de tanto rir. Nem uma palavra sobre a distribuição justa do ônus de uma crise mundial que atinge o conjunto do planeta. Como sempre, a conta é espetada no lombo dos trabalhadores.

    Coincidência ou não, na mesma época somos informados dos resultados dos principais bancos do país.

    O Itaú Unibanco registrou lucro líquido de R$ 5,733 bilhões no primeiro trimestre deste ano. O ganho é recorde para o período levando em conta o resultado dos bancos brasileiros, segundo a consultoria Economática.

    Um pouco antes, o Bradesco anunciou ter fechado o primeiro trimestre de 2015 com lucro líquido de R$ 4,244 bilhões, 6,3% acima do resultado do quarto trimestre de 2014 e 23,3% maior que o mesmo período do ano passado.

    Os trabalhadores penam, a indústria resmunga, o comércio reclama. Já o capital financeiro comemora. Será que é tão difícil saber de onde tirar?

    PARA INGLÊS VER

    A elite conservadora festejou a vitória de David Cameron no Reino Unido.

    Seria a prova de que a redução de gastos públicos e o corte de direitos sociais mostram o caminho da redenção.

    Detalhe: a renda média da população caiu 2,4% entre 2010 e 2014, ficando abaixo do patamar de antes da crise de 2008!

    Quem perdeu mesmo foram os institutos de pesquisa e a incompetência da oposição.

    ricardo melo

    Escreveu até agosto de 2015

    Na Folha, foi editor de "Opinião", da Primeira Página, editor-adjunto de "Mundo", secretário-assistente de Redação e produtor-executivo do "TV Folha", entre outras funções.

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