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    Rita Siza - Marcel Merguizo

    Fazer a diferença

    01/02/2013 16h13

    Domingo, os Baltimore Ravens defrontam os San Francisco 49ers na final do campeonato de futebol americano, em Nova Orleães. Tenho de confessar um interesse particular neste Superbowl XLVII de domingo: não só os Ravens foram a equipa que escolhi para torcer enquanto morei na capital da América, como sinto um carinho especial pela Big Easy, a cidade de Nova Orleães, que conheci antes e depois da tragédia se abater na forma do furacão mais devastador da história dos Estados Unidos.

    Estive no Super Dome da cidade uma única vez, no Verão de 2005, quando os cerca de 30 mil refugiados do furacão Katrina que escaparam ao desastre no interior do gigantesco pavilhão esportivo começavam a debandar da cidade. Nada em Nova Orleães era como antes da tempestade: o lugar acolhedor, assombroso, diverso, excitante, era, por esses dias (e meses e até anos seguintes) um imenso território reduzido à tristeza e solidão, devastado, arruinado, como se toda a alegria, loucura e delícia do passado se tivesse pulverizado com o vento, diluído com a chuva e as cheias.

    Sem dúvida essa realidade não será esquecida quando todos os holofotes se acenderem sobre o impressionante Superdome, totalmente reconstruído e requalificado para o jogo da final. É abissal a diferença entre aquele pavilhão desesperado, despido e danificado de 2005, e o estádio moderno, super tecnológico e cheio de requintes, até no nome do seu principal patrocinador Mercedes Benz, que encontramos hoje.

    De certa maneira, o Superdome serve como a metáfora perfeita para as desditas e as conquistas de Nova Orleães, e por isso, a festa de domingo será ainda mais bonita: no fim do dia, não é apenas a equipa mais forte que vai celebrar a mais saborosa das vitórias, é também toda uma cidade (e região) que vai provar a todo o país - a todo o mundo - a sua extraordinária resiliência e capacidade de reinvenção.

    Quiseram os astros que, em 2013, o calendário colocasse o Superbowl no fim-de-semana anterior Mardi-Gras, a maior festa do Carnaval de toda a América. Brindo à feliz coincidência e às memórias do jazz e dos blues, dos drinks mais poderosos que já experimentei, das sanduíches de ostras e dos refogados bem picantes dos gumbos e jambalayas e os deliciosos "beignets" do Café du Monde: bom proveito para todos os torcedores e carnavaleiros que passarem por Nova Orleães.

    E brindo também aos Ravens de Baltimore, outro extraordinário local que tantas vezes esteve em desagregação e outras tantas em reconstituição. Espero que voltem a casa campeões!

    P.S.: O fecho da temporada de transferências de Inverno foi pródigo em notícias no futebol internacional. Mas talvez nenhuma tão interessante quanto a do acordo celebrado entre o médio inglês David Beckham e o clube francês Paris Saint-German - não por confirmar o chamado "star-power" que garante a longevidade da carreira de Beckham, mas pela sua decisão de jogar graciosamente e doar a totalidade do valor do seu contrato a uma organização de protecção infantil de Paris.

    Não são invulgares os casos de atletas que usam os seus recursos e conhecimentos para construir escolas, que apoiam fundações ou dedicam o seu tempo a advogar por organizações internacionais - o português Cristiano Ronaldo, por exemplo, tornou-se há bem pouco tempo um porta-voz da Save the Children, que faz um trabalho excepcional em prol das crianças de países em desenvolvimento, em guerra ou em crise.

    Felizmente, abundam os exemplos de como o esporte e os esportistas podem fazer a diferença. Muito bom que agora temos mais um.

    rita siza

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comentou sobre diversos esportes, com particular atenção às Olimpíadas.

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