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    Rita Siza

    Muito barulho por nada

    DO PORTO

    01/03/2013 17h54

    O selecionador brasileiro Luiz Felipe Scolari esteve em Portugal esta semana para participar num fórum de treinadores, em Guimarães, e manifestou o seu desejo de ver a selecção portuguesa - que dirigiu entre - na disputa da fase final da Copa de 2014.

    "O Mundial no Brasil, sem Portugal, é como uma parte nossa que fica de fora. Nós não queremos", garantiu Scolari.

    Felipão acredita que o apuramento do time português fica "encaminhado" se a selecção vencer os próximos embates, contra Israel e o Azerbeijão. "Superando essa dificuldade, eu acredito que as coisas ficam mais ou menos organizadas para chegarem ao Mundial", acrescentou.

    O incentivo do técnico canarinho surge num momento em que mais uma vez aqui em Portugal se discute acaloradamente a eventual naturalização de jogadores para ajudar o time lusitano a atingir esse grande objectivo. Como nas anteriores vagas, o que está em causa é a troca de passaporte de vários jogadores nascidos no Brasil e que actuam com grande sucesso em Portugal: concretamente, sabe-se que existe a intenção de fazer de Lima - Rodrigo José Lima dos Santos, o avançado de 29 anos contratado pelo Benfica na presente temporada e que já leva 20 golos marcados em várias competições -, o novo avançado da selecção.

    O técnico nacional Paulo Bento não escondeu o seu desagrado com esta estratégia de naturalização. "Não pedirei a naturalização de nenhum jogador", declarou. Já o seu antigo companheiro de selecção, Figo, não vê problema nenhum. "Como isto já aconteceu anteriormente, eu acho que o Lima tem o direito de representar a selecção nacional", disse o antigo capitão.

    Esta semana, Paulo Bento deitou alguma água na fervura, ao conceder que "a partir do momento em que existe o direito a serem convocados, temos que olhar para eles como cidadãos como os outros" - uma frase que tanto abre a porta à convocatória de Lima se ele entretanto se tornar português como justifica a posteriori a sua opção por Pepe e, outros brasileiros (caso de Liédson) que agora cantam a Portuguesa: "Às armas, às armas, pela pátria lutar, contra os canhões, marchar, marchar."

    O debate é estafado e, francamente, é melhor esquecer os canhões - e já agora as armas, quaisquer que sejam - quando se começam a inflamar as opiniões: as manifestações de patriotismo exacerbado por causa do futebol são quase sempre pouco edificantes. E ainda apor cima, já vimos que, como escrevia o Shakespeare, é "muito barulho por nada" - quando a equipa ganha, ninguém quer saber onde nasceram os jogadores.

    Com menores dificuldades de recrutamento, e sem preocupações com o apuramento do seu time, o técnico brasileiro admitiu em Guimarães que a selecção do Brasil "vai ter de mudar bastante" até à Copa: boas notícias para os brasileiros que jogam em Portugal, Scolari que está a, disse que "na próxima convocatória poderá já surgir um ou outro nome" de jogador do campeonato português.

    "Tenho que examinar o que está acontecendo com os atletas no Brasil e fora do Brasil para que possa escolher", observou. E é bom que escolha depressa, se não corre o risco que alguém deste lado se decida primeiro.

    rita siza

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comentou sobre diversos esportes, com particular atenção às Olimpíadas.

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