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    Rita Siza

    O ténis adere à luta anti-doping

    DO PORTO

    08/03/2013 14h14

    O ténis internacional deu um passo largo no combate anti-doping ao avançar para a implementação do programa do passaporte biológico dos seus atletas já este ano.

    Este mecanismo, que foi acolhido pela federação internacional, os circuitos profissionais masculino e feminino e todos os organizadores de torneios grand slam, regista electronicamente todos os resultados de análises efectuadas por cada atleta, e permite detectar qualquer variação dos padrões sanguíneos individuais de cada atleta. É considerado o método mais eficaz na luta contra o doping.

    É verdade que durante demasiado tempo a luta contra as substâncias ilícitas no esporte pecou por defeito, e as diferentes instituições e federações internacionais podem ser acusadas de laxismo. Por exemplo, os números oficiais da Federação Internacional de Ténis mostram que, em 2011, só foram realizados 21 controlos sanguíneos fora da competição, um valor miserável quando comparado com os 3314 exames que foram efectuados pela União Ciclística Internacional, que introduziu o passaporte biológico em 2008.

    Também é verdade que o ténis nunca foi uma modalidade tão afligida por suspeitas e casos comprovados do uso de substâncias ilegais como o ciclismo. Não se caia, porém, na inocência declarada do super campeão norte-americano Pete Sampras, que a propósito desta medida disse que o ténis estava livre da cultura sofisticada de doping que é conhecida em relação a outros esportes.

    O próprio Sampras sentiu na pele os efeitos nefastos do doping, quando perdeu a final do Open dos Estados Unidos contra o checo Petr Korda, em 1997. Num jogo de cinco sets, três deles jogados até ao tie-brake, foi o factor físico que fez a diferença: no torneio seguinte de Wimbledon, o tenista checo foi desqualificado pelo uso de nandrolona.

    O que é facto é que a pressão recente para o endurecimento dos controlos, e a intolerância com os abusos, está a produzir efeitos - e essa mudança de mentalidades só pode ser saudada.
    A compreensão e adesão dos próprios atletas a estes programas reforça o entendimento da opinião pública sobre as questões de transparência e justiça esportiva. No caso do ténis, foram precisamente aqueles que ocupam o topo dos rankings - Roger Federer, Novak Djokovic ou Andy Murray - que surgiram como os porta-vozes da causa anti-doping.

    São eles quem mais têm a perder com a suspeição: além dos seus resultados esportivos, as suas carreiras e fortunas pessoais constroem-se de contratos cujo objecto é a sua imagem de competitividade mas também honestidade pessoal. O espanhol Rafael Nadal, afastado da competição há mais de sete meses por problemas de joelhos, estará particularmente interessado em afastar qualquer suspeição de irregularidade no seu regresso à forma.

    Mais notícias esta semana demonstraram até que ponto a dopagem parece ser - não agora mas há largos e largos anos - a regra e não a excepção no esporte de alta competição. A repetição de análises às amostras sanguíneas de uma série de atletas revelou o uso de substâncias ilícitas por pelo menos seis atletas da Rússia e Biolorússia, incluindo medalhados com ouro e prata olímpicas, durante o campeonato mundial de atletismo de 2005 em Helsínquia.

    Também o velocista jamaicano Steve Mullings viu confirmada a sua pena de suspensão perpétua da actividade esportiva que lhe foi imposta pela Agência Jamaicana Antidopagem, depois de constatada a sua reincidência na utilização de substâncias ilegais.

    Mas no que diz respeito a cumprir as normas e respeitar as leis, não é só com o doping que os atletas têm de se preocupar. Pelos vistos o trânsito também é um problema. Que o diga Marcelo, condenado por um tribunal de Madrid a uma multa de seis mil euros por conduzir apesar de ter os pontos da sua licença esgotados, tornando-a inválida. Ou Carlos Tévez, o "bad boy" argentino do Manchester City, que também foi apanhado a dirigir sem a devida habilitação e pode ser punido com prisão.

    rita siza

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comentou sobre diversos esportes, com particular atenção às Olimpíadas.

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