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    Rita Siza

    Uma questão de mentalidade

    DO PORTO

    22/03/2013 14h13

    1. Numa entrevista ao canal público português de televisão, esta semana, o técnico do Real Madrid, José Mourinho, explicou a razão por que não participou na cerimónia de entrega dos prémios da Fifa para melhor treinador e jogador de 2012, em Zurique.

    "Não estou arrependido, em absoluto. Foi a decisão certa. Quando mais de uma pessoa me ligou a dizer "Eu votei em ti e o voto apareceu noutro", eu decidi não ir à gala", disse Mourinho, que antes de falar à RTP não tinha (pelo menos publicamente) posto em causa a legitimidade do prémio entregue pela Fifa.

    As declarações do treinador português foram depois confirmadas por Goran Pandev, o capitão da selecção da Macedónia e antigo jogador do Inter de Milão sob o comando de Mourinho (e actualmente no Nápoles). Segundo garantiu o futebolista, "votei em Mourinho, sempre em Mourinho, e depois algo estranho aconteceu", porque a Fifa atribuiu o seu voto a outro treinador.

    Ontem, a Fifa - que desmentiu a versão de Mourinho e garantiu não ter existido nenhuma irregularidade no concurso anual ou qualquer privilégio ou prejuízo de nenhuma das personalidades em contenda - revelou o fac-simile do boletim de voto de Pandev, assinado pelo próprio e também pelo seleccionador nacional macedónio, Cedomir Janevski.

    O documento mostra que nenhum dos dois escolheu Mourinho, nem como primeiro, nem como segunda, ou sequer terceira opção: ambos atribuíram a pontuação máxima de cinco pontos ao espanhol Vicente Del Bosque, que viria a ser eleito, e depois divergiram nas outras , com Janevski a votar em Pep Guardiola e Joachim Löw e Pandev a eleger Jürgen Klopp e Roberto Mancini.

    Ora, claramente nesta história alguém está a mentir: ou Mourinho, ou Pandev, ou a Fifa. Não será terrivelmente importante descobrir verdade desta "infantilidade", como lhe chamou o espanhol Vicente Del Bosque, que foi o técnico galardoado. Tendo a concordar com ele, sobretudo quando ele diz que levantar suspeitas de manipulação dos resultados é infantil, mas não o faz rir.

    2. Na mesma entrevista, Mourinho falou também sobre a selecção portuguesa de futebol e o seu desejo de estar presente na Copa de 2014 no Brasil. "Seria uma pena" se Portugal falhasse a qualificação, e até "irreparável" para um jogador do calibre de Cristiano Ronaldo, que dificilmente terá outra oportunidade de participar num campeonato do mundo.

    Ontem, os jogadores lusitanos tornaram esse objectivo um pouco mais complicado, ao arrancar um empate contra Israel já no período de descontos, depois de permitir a reviravolta da selecção da casa. O treinador Paulo Bento não se mostrou muito incomodado com o resultado, nem muito desagradado com a exibição, contra uma equipa que toda a gente concordava ser inferior à portuguesa.

    Até se fazerem as contas do grupo , no fim de Outubro, ainda faltam muitos minutos de bola, mas a verdade é que, apesar de ainda depender exclusivamente de si para a qualificação, as aspirações portuguesas neste momento já parecem ser de um segundo lugar no grupo que permita ser apurado nos play-off.

    Tendo em conta que Portugal teve como adversários no grupo equipas que estão mais de 60 lugares abaixo de si no Ranking da Fifa, não é brilhante. Pelo contrário, é péssimo. Digo eu.

    "É uma questão de mentalidade", explicou o técnico, ao explicar aos jornalistas porque Portugal falhou tantos golos no jogo com Israel. Prometo continuar a pensar neste argumento - até agora ainda não entendi como faz sentido.

    rita siza

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comentou sobre diversos esportes, com particular atenção às Olimpíadas.

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