• Colunistas

    Thursday, 02-May-2024 04:06:46 -03
    Rita Siza

    Abusos, escândalos, indignações

    DO PORTO

    05/04/2013 13h05

    Depois da onda de indignação causada pela divulgação de vídeos mostrando os abusos e insultos dirigidos pelo técnico da equipa de basquetebol da universidade de Rutgers, no estado norte-americano de, aos seus jogadores, uma nova informação veio inflamar ainda mais os ânimos daqueles que se interessaram pelo escândalo.

    Mike Rice, o técnico em questão, foi imediatamente despedido pelos administradores da universidade estadual depois das imagens dos seus treinos terem passado na ESPN. "Não há nenhuma desculpa para o que fiz, foi errado", penitenciou-se, sem oferecer qualquer explicação para os seus métodos, que incluíam gritos de teor obsceno e homofóbico e empurrões, pontapés e outras agressões aos jogadores.

    A demissão, que a princípio parecia ter sido a medida mais adequada para lidar com o escândalo, logo alimentou uma nova polémica, quando se descobriu que, afinal, a universidade tinha visto o vídeo há cerca de um ano e aparentemente não considerou o comportamento do treinador grave o suficiente para o afastar.
    Essa "complacência" com os métodos de trabalho do técnico terá uma importante consequência financeira: o despedimento de Rice, agora, implicará o pagamento de um bónus de 100 mil dólares, a título de prémio de desempenho, pela época de 2012-13.

    Numa nova reviravolta, dois atletas do time da universidade vieram defender o treinador demitido, elogiando a sua "intensidade". "É verdade que era uma montanha russa emocional, mas ele fez muito por nós académica e socialmente", disse um dos jogadores, citado pela Associated Press.

    Confesso que sinto algum incómodo com a tolerância, compreensão e até mesmo simpatia por actos que deviam ser considerados inadmissíveis, principalmente vindos de alguém encarregado da formação de jovens. Uma coisa é firmeza, disciplina, rigor no treinamento, e até autoridade, se for exercida com responsabilidade e justiça. Outra coisa é a violência física e verbal, avulsa e gratuita, desculpada como camaradagem esportiva ou piada de balneário.

    Numa situação infinitamente mais grave, que envolveu dois jogadores de futebol americano menores de idade do Ohio, também os valores se inverteram, e se assistiu a uma defesa dos prevaricadores e a desvalorização e quase culpabilização da vítima.

    Esse caso envolvia um crime grave: os dois atletas da famosa equipa de futebol americano do liceu de Steubenville estupraram uma jovem de 16 anos que estava embriagada, durante uma festa, e como se isso não bastasse depois do ataque enviaram fotografias da vítima desacordada aos seus amigos, que as disseminaram nas redes sociais.

    Depois da exposição do caso, os atletas não foram punidos pelo técnico, que acreditou que elas achavam que não tinham feito nada de mal. Felizmente, a justiça americana não entendeu o mesmo e condenou-os, num julgamento que foi acompanhado por toda a mídia americana. Incompreensivelmente, no momento da leitura da sentença, a decisão do juiz foi comentada como uma "tragédia" e uma "desgraça" para a carreira de dois jovens tão promissores e talentosos, alunos com boas notas e jogadores importantes do seu time, dois exemplos na sua comunidade.

    rita siza

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comentou sobre diversos esportes, com particular atenção às Olimpíadas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024