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    Rita Siza

    Madrid, Tóquio ou Istambul: que sucessor para o Rio 2016?

    DE SÃO PAULO

    31/05/2013 14h13

    Como nos ensinam os contos tradicionais, "não há bela sem senão", e no caso das três cidades que esta semana apresentaram a sua pretensão à organização das olimpíadas de 2020, numa convenção global em São Petersburgo, é relativamente fácil perceber onde estão as debilidades nas respectivas candidaturas.

    Ao contrário das princesas das histórias, aparentemente perfeitas, as três candidaturas exibem as suas fraquezas de forma bastante óbvia. Uma prolongada crise económica, e consequente turbulência social, ameaçam a candidatura de Madrid, em Espanha. A economia já não é problema no Japão, mas o facto de haver projectos nacionais que levam maior urgência e prioridade do que a preparação da cidade de Tóquio, que já recebeu os jogos em 1964, para uma nova olimpíada poderá prejudicar a sua campanha.

    No caso de Istambul, as dificuldades não têm tanto a ver com a situação da Turquia, mas dos países vizinhos: o complexo conflito que tem como foco a Síria oferece, neste momento, demasiadas incertezas em termos de segurança e estabilidade regional.

    Mas esta é a quinta vez, nas últimas seis edições de Jogos Olímpicos, que Istambul propõe ser anfitriã - uma decisão favorável às suas aspirações seria, antes de mais nada, um tributo à sua persistência.

    Confesso que simpatizo com os argumentos oferecidos pela campanha turca, que promete abrir uma nova região do mundo ao espírito olímpico: "Temos uma cidade que faz a ponte entre a luz e a sombra, o velho e o novo, o este e o oeste. Istambul brilha como um diamante", sublinhou o ministro do Esporte e Juventude da Turquia, Suat Kilic, durante a apresentação.

    Imagino que a promessa de maratonistas a correr pela ponte do Bósforo que liga a Europa à Ásia seja suficientemente apelativa para agradar a uma boa parte dos eleitores que vão decidir qual será a cidade sucessora do Rio de Janeiro. E essa ligação geográfica nem é o único simbolismo da candidatura de Istambul: o Comité Olímpico Internacional certamente não ignora as implicações políticas (e sociais) de levar os jogos, pela primeira vez na história, até um país muçulmano.

    Essa "novidade" já custou ao governador de Tóquio, Naoki Inose, um pedido de desculpa internacional, depois de referências menos abonatórias à cultura dos países islâmicos numa entrevista com o New York Times. Na apresentação desta semana na Rússia, tanto os oradores japoneses, como os espanhóis, esforçaram-se por não criar incidentes diplomáticos, mas ambos realçaram a segurança como o ponto forte das respectivas candidaturas - não é preciso uma grande imaginação para saber qual a comparação que deixaram subentendida.

    A candidatura japonesa promete eficiência, solidez e estabilidade em tempos de incerteza. Pelo seu lado, os espanhóis anseiam inaugurar uma nova era de olimpíadas "low-cost" e "ready-made": os custos para o país em recessão serão triviais, uma vez que 80% da estrutura já está montada, argumentam os promotores de Madrid. O seu projecto tem um orçamento estimado em 1,9 mil milhões de dólares; a proposta de Istambul, no outro lado do espectro, ascende a 19 mil milhões de dólares.

    No capítulo financeiro, o movimento olímpico recebeu boas notícias esta semana de Londres. O comité organizador dos Jogos de 2012 fechou definitivamente as contas, reportando receitas globais de 2,41 bilhões de libras e custos de funcionamento totais de 2,38 bilhões de libras: os 30 milhões que sobram dos lucros serão distribuídos pelas associações olímpicas e paralímpicas do Reino Unido, o Governo britânico e as várias entidades comprometidas com o programa de "legacy". É mais do que justo que os principais contribuintes para o extraordinário sucesso da olimpíada londrina sejam agora os beneficiários.

    rita siza

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comentou sobre diversos esportes, com particular atenção às Olimpíadas.

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