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    Rita Siza

    O especial

    07/06/2013 17h10

    A transferência do técnico português José Mourinho do Real Madrid para o Chelsea foi tal e qual como se adivinhava: um maná de títulos imaginativos na imprensa internacional, para descrever como uma bomba sensacional aquilo que todos já sabiam, repletos com os inevitáveis jogos de palavras referenciando o seu estatuto de "especial" do futebol ("Special One" é o nome de uma loja de noivas da minha rua e eu alucino de cada vez que imagino o treinador com qualquer um daqueles vestidos).

    A loucura da imprensa pode ter sido influenciada pelo verdadeiro delírio da torcida do clube londrino, histérica com a volta de Mourinho. Por um lado compreendo a sua alegria: foi com a sua chegada que o Chelsea ultrapassou um jejum de títulos de 50 anos. Os "blues" conquistaram por duas vezes a Premier League, uma Taça de Inglaterra, duas Taças da Liga e uma Supertaça. Só nunca venceram nenhum troféu europeu - o que veio a acontecer em duas épocas seguidas, com dois treinadores "suplentes" e que não beneficiaram de qualquer gratidão.

    Mas a comoção com a transferência de Mourinho também se deve ao próprio. Em todo o episódio, português manteve-se igual a si mesmo, fiel à sua imagem de marca. Especialista na centrifugadora mediática, distribuiu em doses idênticas elogios, críticas, promessas e certezas, alimentou especulações, revelou quezílias, e expôs defeitos e falhas - as suas e as dos outros, que em alguns dos casos até eram coincidentes (por exemplo, disse que Cristiano Ronaldo "pensa que sabe tudo", um erro que reconheceu também ter cometido mas só no início da carreira).

    Uma conferência de apresentação de "apenas" 30 minutos não foi problema para a mídia: as respostas de Mourinho podem ser curtas mas dão sempre aspas. Desta vez, algumas delas surpreenderam mesmo, como as pérolas de sabedoria e pensamentos inspiradores dignos de caixilho, como este: "A vida é bela e curta. Temos de procurar a felicidade e o que é melhor para nós", que é o meu preferido. Confesso que estranhei toda a linguagem amorosa de apaixonados, mas aposto que num instante isso muda.

    Depois, como também era de esperar, toda-a-gente-que-é-gente no universo do futebol foi chamada a comentar e opinar sobre o assunto. Por exemplo, ouvi Pelé na CNN dizer que a contratação de Mourinho era boa para o Chelsea, porque "ele é um bom treinador". "Conheço-o pessoalmente", informou o lendário número 10 brasileiro. "É talentoso e muito honesto, mas o futebol é uma caixa de surpresas e por isso vai precisar de sorte também."

    Já o vice-presidente do Barcelona, Carles Vilarrubi, pensou que o Chelsea fez mau negócio. "Não é nada bom para o futebol inglês, se o Mourinho se portar como em Espanha vão ser muito infelizes. Aqui ele só gerou discórdia e discussão, estamos todos contentes porque se foi embora."

    Uma coisa é certa: Mourinho é animação e o futebol também vive das grandes personalidades - jogadores, técnicos, presidentes, até comentadores - que motivam as conversas de café.

    rita siza

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comentou sobre diversos esportes, com particular atenção às Olimpíadas.

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