• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 09:09:57 -03
    Rita Siza - Marcel Merguizo

    Viva o Tour!

    29/06/2013 03h00

    A centenária Volta à França em bicicleta arranca na ilha da Córsega e prova que, mesmo depois de cem edições, ainda é capaz de inovar e surpreender.

    Aliás, deve ser difícil encontrar em todo o universo esportivo uma competição que seja tão prolífera em novidades e surpresas, que habitualmente se traduzem em grandes escândalos e controvérsias. Como alega um novo álbum comemorativo intitulado "Tour de France", editado pela Quercus Books a tempo de assinalar a data bem redonda, o segredo do fascínio eterno com a prova pode bem explicar-se pela sua natureza eminentemente transgressora, e pela sua intriga e dramatismo --nesse aspecto, acrescentar o cenário de montanha da Córsega ao percurso da Volta só pode ser considerada uma excelente ideia.

    Claro que o verdadeiro drama do Tour não tem tanto a ver com a paisagem. São as inúmeras histórias de génio e heroísmo, de rivalidade e companheirismo, e também de desgosto e decepção que nos animam a cada ano. Na galeria da Volta à França estão inscritas cenas pouco edificantes, logo desde a sua primeira edição, quando o vencedor Maurice Garin destruiu a bicicleta do seu principal concorrente e o subornou para abafar o caso.

    Mas também episódios notáveis como por exemplo o que envolveu Eugène Christophe, um dos favoritos à vitória na corrida de 1913 mas que ficou com a bicicleta desfeita na descida do Col du Tourmalet. O atleta, que tinha sido ferreiro, desmontou e desceu a montanha com a bicicleta ao ombro, mas recusou abandonar a corrida: perdendo a liderança, reconstituiu sozinho a bicicleta e chegou até Paris.

    Na mesma galeria, encontramos alguns dos mais extraordinários atletas do século XX, do campionissimo italiano Fausto Coppi, cujo domínio absoluto chegou a traduzir-se num avanço de meia hora para o segundo classificado; ao recordista belga Eddie Merx, único homem que foi capaz de acumular a vitória na classificação geral, classificação dos pontos, classificação da montanha e o prémio da combatividade, tudo na mesma edição; aos não menos impressionantes Bernard Hinault ou Miguel Indurain.

    A emoção para a edição que arranca neste sábado está mais do que garantida, e mais ainda depois do agora infame Lance Armstrong, que perdeu os seus sete títulos do Tour por causa do uso de substâncias ilícitas, ter aparecido a garantir que nos tempos que correm "é impossível" vencer a volta sem recurso ao doping --veremos.

    Em cem anos houve tempo para muitas mudanças no ciclismo. Mas o Tour continua a ser a maior e mais espectacular corrida de bicicletas do mundo. Partida e viva a Volta à França!

    rita siza

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comentou sobre diversos esportes, com particular atenção às Olimpíadas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024