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    Rita Siza

    Surpresas de Verão

    12/07/2013 15h56

    Nesta época estival e de canícula europeia, que se não fosse pela Volta à França em bicicleta ou pelos rumores do mercado de transferências futebolísticas, estaria perfeita para a moleza e a preguiça, ainda aparecem de vez em quando factos capazes de nos fazer vencer a inércia e saltar de surpresa e estupefacção.

    "Será que li correctamente ou já estou a delirar com o calor?", pensei cá para mim, quando ao consultar os alertas e últimas notícias na linha da Reuters à procura de informação sobre a crise egípcia vislumbrei um título mencionando um resultado de 79 a zero num jogo de futebol da Nigéria.

    Não era um jogo qualquer: era, como explicou depois a BBC, uma "batalha de vida ou de morte" entre duas equipas que buscavam a entrada na primeira divisão, e dependiam de vitórias expressivas para carimbar a subida. Por coincidência, o outro jogo também produziu uma goleada - mais modesta, é certo - de 67-0.

    Curiosamente, os dois times vitoriosos conseguiram esses resultados tão inusitados apenas em 45 minutos: ao intervalo, o marcador exibia um número mais habitual de cinco golos marcados. O que quer dizer que no regresso do balneário, foram marcados golos a cada 37 e 43 segundos (não fui eu que fiz as contas mas confio que a média esteja correcta).

    Só que a Federação Nigeriana de Futebol não gostou destes triunfos sensacionais, que qualificou como "um espectáculo alucinante de vergonha", e suspendeu os dois times envolvidos e respectivos agentes esportivos.

    Infelizmente, não consegui encontrar imagens dessa overdose goleadora, que foi comentada em todo o mundo, apesar de ficar longe do recorde do mundo de 149-0, num jogo no Madagáscar em 2002. Nessa partida, os golos foram marcados na própria baliza, num original protesto dos jogadores do SOE contra anteriores decisões de arbitragem.

    O outro caso insólito da semana não provocou a mesma gargalhada e divertimento. "Árbitro mata jogador em campo e é decapitado pelos adeptos", anunciava o título de uma notícia que mais parecia saído do jornal do incrível. Mas não, a matéria era muito séria e referia-se aos "momentos de puro terror" vividos num campo do Maranhão no fim de Junho - não consigo explicar a razão por que o caso grotesco demorou mais de uma semana a chegar à imprensa internacional.

    Até esfreguei os olhos, para afastar a incredulidade. Com podia tal coisa ser possível, perguntava-me, depois de ler a descrição dos factos, em quatro parágrafos macabros. A notícia referia que o crime fora captado pelas câmaras de celulares - os vídeos estão agora na posse das autoridades para a investigação. Pela parte que me toca, e ao contrário dos golos da Nigéria, não senti a mínima curiosidade de saber se já teriam sido disponibilizadas online: certas coisas, que desafiam a nossa compreensão, nunca deveriam ter que ser vistas por ninguém.

    rita siza

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comentou sobre diversos esportes, com particular atenção às Olimpíadas.

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