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    Rita Siza - Marcel Merguizo

    Blatter e a Bola de Ouro

    01/11/2013 19h00

    Imagino que saibam do que estou a falar e por isso vou directa ao assunto: não foram as referências menos abonatórias ao feitio e ao penteado, nem sequer a patética imitação do gingar de Cristiano Ronaldo pelo presidente da Fifa, Sepp Blatter, que me indignaram, irritaram ou ofenderam --como aconteceu com metade dos portugueses que correram ufanos para deixar o nome em abaixo-assinados exigindo a sua demissão.

    O que verdadeiramente me surpreendeu na paródia do homem que dirige o organismo de supervisão do futebol mundial, perante a plateia de estudantes da universidade de Oxford, foi a sua manifesta falta de noção do seu papel institucional e dos seus deveres de representação, ao tomar partido --de forma espúria e até inconveniente-- numa disputa na qual está obrigado a reservar a neutralidade.

    Atenção: quero deixar a ressalva que o senhor Sepp Blatter, como todo e qualquer mortal, tem o direito a ter a sua própria opinião e ainda mais direito de preferir um jogador a outro --no caso, Lionel Messi a Cristiano Ronaldo.

    Mas pelo cargo que ocupa, não pode tornar pública essa preferência ou opinião, ainda por cima quando o faz no mesmo fôlego em que antecipa um "duelo" entre as duas personalidades em causa, ambos nomeados para a distinção da Bola de Ouro de 2013.

    A lista de candidatos não é composta apenas por Messi e Ronaldo: lá constam nomes como Franck Ribery, Zlatan Ibrahimovic, Radamel Falcao, Robert Lewandowski, Arjen Robben, Luis Suarez, Robin van Persie, Gareth Bale, ou os brasileiros Thiago Silva e Neymar. Julgo que ninguém se atreverá a contestar a justiça da sua nomeação --como, suponho, ninguém argumentará contra eles se o troféu lhes for parar às mãos.

    Com as suas declarações desajustadas, Blatter prestou um péssimo serviço à Fifa e deixou numa situação muito complicada todos aqueles que votam para a eleição da Bola de Ouro: sob suspeita. Quer o prêmio venha a ser atribuído novamente a Lionel Messi, que ele generosamente descreveu como "um bom menino", ou vá desta feita para Cristiano Ronaldo, o homem que Blatter imitou como um "comandante" e desvalorizou por "gastar tanto dinheiro em cabeleireiro", a performance na universidade de Oxford tornará legítimas todas as interpretações.

    O estrago está feito e a votação condicionada: o júri pode escolher o jogador que Blatter queria para manter a paz, ou então dar o prêmio ao outro para Blatter aprender a estar calado. Ou então, pode escolher outro nome qualquer e acabar de vez com esta palermice.

    rita siza

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comentou sobre diversos esportes, com particular atenção às Olimpíadas.

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