Divulgação/Prefeitura de Salto | ||
Espuma formada pela poluição do rio Tietê invade ruas da cidade de Salto |
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Colunistas
Saturday, 04-May-2024 03:30:06 -03Roberto de Oliveira
Quem liga para o Tietê?
28/08/2017 02h00
"Bem-vindo a São Paulo: Viva tudo isso!" Com esses dizeres, inscritos numa imensa placa, são recebidos os motoristas que chegam à cidade pela marginal Tietê.
As palavras do anfitrião soam como ironia. Ampliada na gestão tucana de José Serra (2006-2010), a via recauchutada não dialoga com o tom festivo das boas-vindas.
Além disso, respira-se ali um fedor de revirar o estômago, causar ânsia de vômito e fazer lacrimejar os olhos.
Assim como acontece com o Pinheiros, o rio Tietê transforma-se numa enorme vala de esgoto, cercada por asfalto e automóveis dos dois lados, ao cruzar a metrópole.
É de causar espanto -e até vergonha- a negligência diante do seu principal rio.
A elite paulistana adora divagar sobre a beleza de rios como o Sena, em Paris, e o Tâmisa, em Londres. Ambos agradavelmente navegáveis e repletos de atrações turísticas em suas margens.
Biologicamente morto, o rio londrino, maior que o Pinheiros, era conhecido no século 19 como "o grande mau cheiro", mas, em 50 anos, a cidade conseguiu limpá-lo.
O Sena irá passar por mais um processo de despoluição com o propósito de deixar suas águas propícias para banho até a Olimpíada de 2024.
Em uma de suas andanças, o prefeito João Doria (PSDB) caminhou às margens do rio Cheonggyecheon, na capital Seul, em abril. Doria pôde ver de perto que, independentemente de a questão do esgoto ser tratada aqui
por órgãos do Estado, lá o rio sensibiliza a todos: políticos, moradores e turistas. Há até peixes nele.Ao contrário dos governos tucanos à frente do Estado paulista, os sul-coreanos conseguiram a proeza de revitalizar, em apenas quatro anos, o rio que corta a metrópole, ao custo de US$ 370 milhões.
Do lado de cá, Tietê e Pinheiros continuam espantando a freguesia. Desde 1992, o projeto de recuperação do Tietê, tocado pelo governo do Estado, já consumiu, alegam, US$ 2,7 bilhões em coleta e
tratamento de esgoto.Houve avanços: a coleta de esgoto passou de 70% para 87%, e o tratamento do que é coletado saltou de 24% para 70%. Em pouco mais de 20 anos de obras, a Sabesp diz que passou a tratar dejetos de 8,5 milhões de
pessoas.Falta saber se existe um prazo para acabar com as emissões clandestinas de esgoto, lançado diretamente no rio.
Outra dúvida que paira no ar: após o extermínio do verde, provocado pela ampliação das marginais, o replantio da vegetação às margens será retomado? Afinal, para realmente darmos boas-vindas, precisaremos oferecer ao visitante o desfrute de uma tarde ensolarada ou de uma noite de lua cheia na beira do rio Tietê, o que hoje pode soar como piegas de tão utópico.
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