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    Roberto Dias

    O faz de conta do dinheiro público na Olimpíada do Rio

    07/07/2016 02h00

    Ricardo Borges/Folhapress
    Rio de Janeiro, RJ, BRASIL. 230/06/ 2016; Tunel que liga Botafogo a Copacabana recebe decoracao para os jogos olimpicos Rio2016 que comecam em Agosto. (Foto: Ricardo Borges/Folhapress) *** EXCLUSIVO FOLHA ***
    Túnel que liga Botafogo a Copacabana, no Rio de Janeiro, recebe decoração para os Jogos Olímpicos

    SÃO PAULO - Entrevistado nesta semana por "O Globo", o presidente do Comitê Organizador da Olimpíada do Rio, Carlos Arthur Nuzman, cravou: "Assumimos o compromisso de fazer os Jogos sem dinheiro público e estamos cumprindo".

    Não, os Jogos não estão sendo feitos sem dinheiro público. Dos R$ 39 bilhões gastos na Olimpíada, 43% são oriundos do bolso de cidadãos brasileiros, sem incluir despesas estatais com segurança, como mostrou a Folha. Quão muito dinheiro significa isso? São 14 anos de Lei Rouanet.

    Para vender a ideia de que os Jogos se materializarão sem verba pública, Nuzman recorta a realidade. Limita-se ao orçamento do Comitê Organizador, uma fração de R$ 7,4 bilhões, vindos sobretudo de patrocinadores, ingressos, licenciamento e do COI. Mas mesmo o recorte é torto —essa rubrica carrega renúncia fiscal e patrocínio dos Correios.

    A contabilidade criativa do principal responsável pela Olimpíada embute um discurso conveniente. Ao UOL Nuzman afirmou : "A Olimpíada não tem nada a ver com os problemas do Estado [do RJ]". Não é o que diz o governo: "Fica decretado o estado de calamidade pública, em razão da grave crise financeira no Estado do RJ, que impede o cumprimento das obrigações assumidas em decorrência da realização dos Jogos".

    Nuzman falou ainda que "o metrô não fez parte do projeto". Bem, o fato de ele estrear na semana da abertura, e apenas para uso olímpico, ressignifica a palavra "coincidência".

    Enquanto o Rio se preparava para os Jogos, outras cidades avaliaram se candidatar, pesando o uso do dinheiro público. Estocolmo e Boston desistiram. Munique e Hamburgo levaram a questão às urnas e caíram fora.

    Os brasileiros não tiveram a mesma oportunidade que os alemães. É hora de avaliar se o investimento público valeu a pena —em vários aspectos, é provável que a conclusão seja que sim. Mas o debate deveria ser feito com argumentos menos oblíquos.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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