Peter Nicholls/Reuters | ||
Em frente à residência oficial do premiê britânico, Cameron despede-se do cargo ao lado de sua família |
-
-
Colunistas
Saturday, 04-May-2024 06:28:36 -03Roberto Dias
Ensimesmada, política brasileira produz muito calor e pouca luz
14/07/2016 02h00
SÃO PAULO - Nos últimos 21 dias, a política britânica decidiu que: 1) o Reino Unido deve sair da União Europeia; 2) o primeiro-ministro deixa o cargo; 3) uma mulher encabeça o novo governo.
No mesmo período, os destaques aqui foram: 1) o presidente da Câmara renunciou para tentar salvar seu mandato de deputado, o que até aqui vai conseguindo, e seus pares dedicaram seus dias a procurar um tampão; 2) a PF fez operações contra corrupção, enquanto o STF quis investigar bonecos infláveis; 3) um ex-presidente da República disse que o atual dono da cadeira não sabe governar.
O processo de troca na Câmara é o exemplo máximo de como, ensimesmada, a política brasileira produz muito calor e pouca luz.
A derrubada do presidente de um Poder (o Legislativo) está na raiz da queda do presidente de outro Poder (o Executivo). Os dois processos –a cassação de Eduardo Cunha e o impeachment de Dilma Rousseff– dominaram a agenda dos últimos meses, numa novela que, entre intermináveis menções ao regimento e infindáveis recursos, deve durar mais algumas semanas. Nada desse enredo tem impacto para o futuro do mundo comparável ao do que ocorreu no Reino Unido.
Encerrada a eleição de seu novo presidente, não sobrará muito de substantivo para a Câmara no ano. Como lembrou um dos candidatos à cadeira: julho é recesso, agosto tem Olimpíada, setembro e outubro são meses da campanha municipal.
Lá e cá, o vocabulário parlamentar também denota o contraste no que deveria ser a função precípua de um político. Em Brasília, na última aparição, Cunha apelou ao pescoço dos pares: "Hoje sou eu. Vocês, amanhã". Em Londres, David Cameron despediu-se nesta quarta (13) com um discurso pedindo que os colegas usem a política para construir coisas. "Como eu já disse, um dia eu fui o futuro." Cunha teria dificuldade até para sussurrar essa frase.
Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.
Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.brPublicidade -