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    Roberto Dias

    Barcelona sabia para onde ia; e o Rio?

    04/08/2016 02h00

    Reprodução
    Em ato simbólico, o então prefeito de Barcelona, Pasqual Maragall, derruba as últimas barracas do Carmel, em 1990
    O então prefeito de Barcelona, Pasqual Maragall, derruba as últimas barracas do Carmel, em 1990

    SÃO PAULO - É difícil exagerar o impacto da Olimpíada para o destino de Barcelona. Paradoxalmente, também é fácil fazê-lo.

    Difícil porque os Jogos de 1992 foram mesmo tudo isso que se diz. Ali os catalães inverteram o olhar de sua capital, que vivia de costas para o mar. Criaram uma marca urbana que atrai turistas e talentos. Acabaram com a última favela da cidade, o morro do Carmel, antes tomado pelo tráfico de heroína.

    Mas é fácil exagerar e acreditar que a maior história de sucesso das Olimpíadas se resume à Olimpíada. Para Barcelona, o evento foi uma alavanca num processo antigo –o Plano Metropolitano de 1976, que ampliou espaços públicos, é um marco inicial possível– e que segue vivo.

    A Vila Olímpica ajudou a ocupar o front marítimo e serviu de laboratório (os catalães perceberam que construir habitações sem áreas comerciais cria desertos diurnos). Após os Jogos, Poblenou, bairro vizinho, recebeu clusters de inovação, num projeto de 20 anos que injetou nova vocação na cidade. É possível desenhar lógica geográfica e econômica das mudanças por décadas.

    Qual o sentido da transformação do Rio? A discussão foca os legados pontuais, como arenas e transporte. São importantes, mas não iluminam o amanhã. Tirante as áreas de cimento fresco, a cidade continua solidificada como metrópole de população envelhecida e muito dependente de aposentadorias, com classes sociais demarcadas num tabuleiro de favelas, que pena sobremaneira com os solavancos da Petrobras e encravada num Estado em frangalhos.

    Claro que para as questões do futuro estão sempre aí as respostas do passado. Bem ou mal, a cidade já sobreviveu às coxinhas de frango no casaco de d. João 6º, à mudança da capital para Brasília, a um número calamitoso de balas perdidas. Ao contrário de Barcelona, o Rio nunca precisou de plano diretor para continuar pelo menos lindo.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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