Alan Marques - 18.out.2016 /Folhapress | ||
Na campanha de 2006, Alckmin põe jaqueta com logos de estatais para sinalizar que não as privatizaria |
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Colunistas
Saturday, 04-May-2024 11:34:27 -03Roberto Dias
A campanha comeu o bicho-papão das privatizações
29/09/2016 02h00
Esta campanha municipal comeu um bicho-papão das eleições. Ele se chama privatização e nas últimas décadas assombrou montes de candidatos que temiam ser triturados apenas por mencionar a palavra.
Sua vítima mais famosa foi Geraldo Alckmin, que em 2006 protagonizou um fenômeno: perdeu partes do eleitorado na passagem do primeiro para o segundo turno após vestir uma jaqueta com o tal fantasma.
Como a história adora uma ironia, coube a um pupilo de Alckmin o papel mais estridente no enfrentamento do monstro. Ninguém pode dizer que não sabia que João Doria quer entregar o controle de diversas coisas à iniciativa privada. Estádio, autódromo, centro de convenções, faixas de ônibus, parques, mercados, cemitérios —dificilmente o tucano teria como ser mais claro.
Por mais volátil que esteja, o eleitorado paulistano já deu sinais de ver com bons olhos a mensagem. Doria era pouco conhecido pelos eleitores no início da corrida. Com a difusão de suas propostas, foi o único candidato que cresceu seguidamente, a ponto de liderar e ao mesmo manter baixa sua rejeição.
O tucano figura como maior símbolo da rendição do monstro, mas não é raio em céu azul. Marta Suplicy fala da iniciativa privada, coisa que não fazia antes ("eu saí do PT", justifica ). No Rio, até o candidato do PSOL baixou a guarda ("Há áreas em que parcerias com o setor privado são boas, diz Marcelo Freixo).
A semente anti-estatista germina em solo fértil. O depauperamento fiscal dos diversos governos é gritante. A operação Lava Jato expôs o maior ralo de dinheiro público já visto.
Para quem acredita que as mãos da iniciativa privada são mais úteis para a sociedade do que as do Estado, há música. Se a maior parcela votar por esse caminho, jogo jogado. Os problemas dessa história toda não são bem de ideologia, porém.
Ao prometer que a iniciativa privada vai resolver isso e aquilo, os candidatos se desincumbem de mostrar contas. Tudo passa a "caber" no Orçamento. A fatura exportada para alguém (adivinhe quem) não precisa aparecer na campanha.
Outro problema reside no, digamos, pós-venda.
Condutor do maior ciclo de privatizações, FHC falou dos seus planos na campanha de 1994. Propôs levantar R$ 15 bilhões (R$ 76 bi atualizados) com a venda de estatais. Mas a contona de padaria do candidato subtraía uma questão.
Em duas décadas tentando fiscalizar os serviços privatizados/concedidos, o governo central caminhou aos trancos e barrancos, com agências reguladoras pouco eficientes e serviços ainda aquém do desejado pela população. Como essa cultura ainda é fraca nos municípios, não há motivo para o eleitor dormir sossegado.
Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.
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