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    Roberto Dias

    A campanha comeu o bicho-papão das privatizações

    29/09/2016 02h00

    Alan Marques - 18.out.2016 /Folhapress
    Candidato Geraldo Alckmin - Reuniao na ANBB - Candidato Geraldo Alckmin durante reuniao na ANBB-Associacao Nacional dos funcionarios do Banco do Brasil, na 501 sul. Brasilia, DF, 18.10.2006
    Na campanha de 2006, Alckmin põe jaqueta com logos de estatais para sinalizar que não as privatizaria

    Esta campanha municipal comeu um bicho-papão das eleições. Ele se chama privatização e nas últimas décadas assombrou montes de candidatos que temiam ser triturados apenas por mencionar a palavra.

    Sua vítima mais famosa foi Geraldo Alckmin, que em 2006 protagonizou um fenômeno: perdeu partes do eleitorado na passagem do primeiro para o segundo turno após vestir uma jaqueta com o tal fantasma.

    Como a história adora uma ironia, coube a um pupilo de Alckmin o papel mais estridente no enfrentamento do monstro. Ninguém pode dizer que não sabia que João Doria quer entregar o controle de diversas coisas à iniciativa privada. Estádio, autódromo, centro de convenções, faixas de ônibus, parques, mercados, cemitérios —dificilmente o tucano teria como ser mais claro.

    Por mais volátil que esteja, o eleitorado paulistano já deu sinais de ver com bons olhos a mensagem. Doria era pouco conhecido pelos eleitores no início da corrida. Com a difusão de suas propostas, foi o único candidato que cresceu seguidamente, a ponto de liderar e ao mesmo manter baixa sua rejeição.

    O tucano figura como maior símbolo da rendição do monstro, mas não é raio em céu azul. Marta Suplicy fala da iniciativa privada, coisa que não fazia antes ("eu saí do PT", justifica ). No Rio, até o candidato do PSOL baixou a guarda ("Há áreas em que parcerias com o setor privado são boas, diz Marcelo Freixo).

    A semente anti-estatista germina em solo fértil. O depauperamento fiscal dos diversos governos é gritante. A operação Lava Jato expôs o maior ralo de dinheiro público já visto.

    Para quem acredita que as mãos da iniciativa privada são mais úteis para a sociedade do que as do Estado, há música. Se a maior parcela votar por esse caminho, jogo jogado. Os problemas dessa história toda não são bem de ideologia, porém.

    Ao prometer que a iniciativa privada vai resolver isso e aquilo, os candidatos se desincumbem de mostrar contas. Tudo passa a "caber" no Orçamento. A fatura exportada para alguém (adivinhe quem) não precisa aparecer na campanha.

    Outro problema reside no, digamos, pós-venda.

    Condutor do maior ciclo de privatizações, FHC falou dos seus planos na campanha de 1994. Propôs levantar R$ 15 bilhões (R$ 76 bi atualizados) com a venda de estatais. Mas a contona de padaria do candidato subtraía uma questão.

    Em duas décadas tentando fiscalizar os serviços privatizados/concedidos, o governo central caminhou aos trancos e barrancos, com agências reguladoras pouco eficientes e serviços ainda aquém do desejado pela população. Como essa cultura ainda é fraca nos municípios, não há motivo para o eleitor dormir sossegado.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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