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    Roberto Dias

    A urna é eletrônica, mas a identificação é arcaica

    27/10/2016 02h00

    Reprodução
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 14-10-2016 - DOCUMENTO FALSO - Carteira de identidade com o Registro Geral ( RG ) falsifidaca para uma materia sobre falsificacoes de documentos.(Foto:Reproducao) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Carteira de identidade falsificada

    SÃO PAULO - Há duas décadas o brasileiro escuta a ladainha de que tem o sistema de votação mais avançado do mundo. Deitados no berço esplêndido da urna eletrônica, mal percebemos que nossa modernidade não sai da casinha de papelão que a abriga. O caminho até ela inclui um arcaico processo de identificação.

    É um avanço usar o recadastramento biométrico eleitoral ora em curso para criar um sistema unificado —Planalto, Supremo e TSE assinaram acordo neste mês— assim como, na próxima semana, estrear tal tecnologia no Enem. Mas os passos ainda são demasiado lentos.

    Parte dos freios advém de dúvidas sobre segurança. Justo, mas método perfeito inexiste. Como já mostrou a Folha, é possível tanto fazer vários RGs pelo país como falsificar um.

    Na semana passada, uma empresa britânica apresentou mecanismo que permite ao eleitor se identificar com uma selfie. Faz sentido usar as urnas para catalisar a modernização. Voto é algo que toca o coração dos políticos, e trata-se aqui de um caso clássico de descompasso público x privado —o sistema bancário brasileiro, por exemplo, permite sacar dinheiro com a palma da mão.

    Enquanto a burocracia estatal patina, dois grandes sistemas de identificação são construídos pelo mundo, os logins do Google e do Facebook. Mais e mais gente se rende a eles, competidores inclusive. As teles tentaram que o celular fosse a chave universal, mas perderam.

    É incrível quanta informação se concentra nesses logins. O que comprou? Com quem conversou? Quem paquerou? Onde almoçou?

    Esses dados servem a fins comerciais, sob escassa regulação. Houvesse algo ainda que longinquamente parecido no governo, facilitaria muitas políticas, como adequar a oferta escolar ou antecipar epidemias. E, imagine você, eleitor e cidadão, como seria a vida caso pudesse se valer de todos os serviços públicos com uma única identidade.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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