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    Roberto Dias

    Sistema de freios e contrapesos gira em falso na Praça dos Nenhum Poderes

    08/12/2016 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) deixa o gabinete da presidência após acompanhar a sessão do STF
    O presidente do Senado, Renan Calheiros deixa o gabinete após acompanhar a sessão do STF

    SÃO PAULO - Para dizer que há uma crise institucional é preciso primeiro acreditar que existem instituições, algo menos e menos nítido na Praça dos Nenhum Poderes, onde nem decisão de ministro do STF vale mais.

    Na órbita de um Executivo ajoelhado, um Legislativo malcheiroso e um Judiciário imprevisível, fica ainda mais evidente como o sistema de freios e contrapesos gira em falso. Se a engenharia legal funcionasse, já teria respondido há muito se Renan Calheiros deveria estar no Senado ou na prisão, pois o caso original se arrasta inconcluso por nove anos.

    O buraco negro sequestra o debate público. Um país em crise econômica sem igual passou 2016 falando do (mau) andamento das ditas instituições —coisas como tirar fulana e beltrano da cadeira ou pura corrupção.

    Tentativa de resumo do noticiário da véspera, a versão impressa da Folha dá uma medida do desvio de atenção. Quase metade das manchetes do ano versou sobre esse tipo de problema e não sobre Previdência ou desemprego, e isso já descontadas as eleições, aí sim um aspecto positivo da vida institucional.

    Como evitar que gente que nem deveria estar em liberdade comande a agenda? Levar todos os problemas a voto popular pode não ser a melhor solução, como aprenderam neste ano David Cameron, Juan Manuel Santos e Matteo Renzi. Mas pressão crescente das ruas, canalizada para dentro desse sistema disfuncional, ainda que sob risco de espaná-lo, é o caminho, mesmo que lento. Pois o sururu é tamanho que chegou a hora de concordar com Renan: "A democracia, mesmo no Brasil, não merece esse fim." Mesmo no Brasil, senador.

    *

    Além da corrupção, outra praga a devorar instituições é a vaidade. O flagrante do risonho tricô de Sergio Moro com Aécio Neves na entrega de um prêmio costura uma imagem bem ruim para a 13ª Vara Federal de Curitiba, que comanda a Lava Jato.

    Diego Padgurschi/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL 06-12-2016: Juiz Sergio Moro ao lado de Aecio Neves (PSDB) e Michel Temer (PMDB) durante a cerimonia de entrega do premio Brasileiro do Ano, da revista Istoé, no Citibank Hall. Serão premiados, entre outros, Michel Temer (Brasileiro do Ano), Sergio Moro (Justiça), Eduardo Paes (Gestão) e João Doria (política). (Diego Padgurschi /Folhapress - PODER)
    Juiz Sergio Moro ao lado de Aecio Neves (PSDB) durante entrega de prêmios da revista "IstoÉ"
    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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