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    Roberto Dias

    No país da jabuticabatech, canetada nos cartões ameaça a competição

    22/12/2016 02h00

    Divulgação
    Nubank recebeu aporte de US$ 80 milhões do fundo DST Global em sua quinta rodada de investimentos
    O Nubank oferece cartão de crédito sem tarifas de anuidade

    Será irônico se uma canetada para melhorar o mercado de cartões matar justamente quem injeta competitividade no setor.

    Isso esteve perto de acontecer nesta semana. Esperava-se que o Banco Central anunciasse a redução do prazo para pagamentos aos lojistas das compras a crédito, de 30 dias para 2 dias. A mudança não vingou —ainda. Nesta quarta (21), o ministro da Fazenda disse que a medida poderá ser adotada em janeiro se os bancos não baixarem os juros do cartão.

    A gritaria contrária foi vocalizada no entorno do Nubank, startup brasileira que ganhou terreno oferecendo cartão de crédito sem tarifas. A empresa afirma que não tem como fazer repasses aos vendedores antes de receber dos compradores.

    O Nubank é a mais famosa fintech brasileira, como são chamadas as startups que desenvolvem tecnologias para atuar no setor financeiro. O episódio expõe outra ironia: a principal fintech do país está pendurada numa jabuticaba, o prazo de 30 dias para o pagamento da venda.

    Essas empresas brotam nos buracos de mercado, que se enfileiram numa economia com regras tão heterodoxas como a nossa. Num país onde abrir uma firma só não é mais difícil do que fechá-la e com discreto histórico de inovação, são um ramo de startups que vai razoavelmente bem, contadas às centenas.

    Só pelo acima já fariam jus a atenção especial, mas existe um adicional: competem contra os grandes bancos, que no Brasil exibem resultados vistosos mesmo em tempos bicudos. A sempre saudável competição é especialmente bem-vinda nesse setor, assim como a regulação.

    Essa fiscalização vai se deparar com discussões sofisticadas, como a da segurança dos blockchains, tecnologia usada por muitas fintechs para registrar suas transações. O que houve agora foi só um aperitivo, e o governo vai ter que ser cirúrgico para evitar que a correção de um problema de mercado prolongue outros.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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