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    Roberto Dias

    Mundo que Obama deixa está distante do que ele prometeu

    12/01/2017 02h00

    Scott Olson/Getty Images/AFP
    O presidente dos EUA, Barack Obama, durante seu discurso final à nação, em Chicago

    SÃO PAULO - Sete amêndoas. Não oito, nem seis. Elas entraram para o anedotário como a base alimentar de um ritual dos últimos anos na Casa Branca: as solitárias noites de trabalho de Barack Obama. As mais longas sessões, que terminam iluminadas pelos primeiros raios de sol, são as que dedica a lapidar discursos, como relatou "The New York Times".

    O esforço se justifica: o poder de falar bem e produzir boas imagens é o ponto alto de Obama, algo que mostrou novamente na despedida em Chicago. Um grande mérito, dada a teatralidade exigida na política.

    Sem a mediação de lentes e microfones, porém, o saldo de seu governo parece menos iluminado do que a imagem pessoal. Nove anos depois, é difícil enxergar um mundo que tenha andado no rumo daquele desenhado pelo senador em 2008. Pode-se dizer até que está mais distante –ainda mais intolerante, ainda mais protecionista, ainda mais perigoso.

    Dotado dos maiores poderes conferidos a um humano, ele não conseguiu realizar algo bem específico como fechar a prisão de Guantánamo, símbolo da era Bush que prometera desmontar. A falta de gosto pela pequena política cobra seu preço.

    Nobel da Paz? Nenhum presidente comandou tropas em guerra por mais tempo do que Obama –dois mandatos inteiros. Não que isso tenha resolvido algo; as imagens de terror são mais e mais frequentes.

    A economia melhorou, claro, mas o ponto inicial era baixo, pois assumiu na maior crise desde os anos 30. E o nó dos empregos limados pela tecnologia impulsionou Trump.

    O plano de Obama para a saúde, que poderia figurar com legado claro, deve ser desmontado agora. As ações para o clima correm risco.

    É difícil notar tais aspectos porque Obama tem qualidades evidentes: um estadista com ideais, sem escândalos, com bom senso. Por isso quase tudo com ele é relativizado. Mas pausas dramáticas, por si só, não melhoram o mundo, infelizmente.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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