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    Roberto Dias

    Dias melhores não deveriam ser exclusivos dos dinamarqueses

    16/02/2017 02h00

    Lalo de Almeida - 22.out.2016/Folhapress
    Em casa, Valéria treina com João o que aprende na fisioterapia
    Valéria Gomes Ribeiro brinca com João, bebê com microcefalia que decidiu adotar

    SÃO PAULO - O dinamarquês Ulrik Haagerup é um pregador no contrafluxo. Criou um movimento para que o jornalismo dê um pouco menos de visibilidade ao que saiu errado e um pouco mais ao que vai dando certo.

    Diretor da TV pública de seu país, ele argumenta que o treinamento dado aos jornalistas para aguçar o olhar crítico tem um efeito perverso: pode levar as pessoas a acreditar que a realidade é pior do que de fato é.

    Seu projeto se chama Notícias Construtivas, "um serviço de despertador para a indústria da mídia, que está infectada pelo cinismo", segundo definiu em um livro.

    Ao discutir esse viés negativo, a obra recapitula uma hipótese levantada pelo homem mais rico do mundo. "É fácil cobrir notícias ruins e dramáticas, mas boas notícias em geral acontecem lentamente e sem drama", diz Bill Gates, criador de uma fundação. "A saúde das pessoas melhora, mas ninguém convida para uma entrevista sobre as crianças que não morreram de malária."

    Existe também um medo recorrente de que esse olhar mais otimista desvie para a pieguice ou leve o jornalismo a ignorar sua função básica de fiscalizar o poder público.

    É possível fugir da armadilha, defende Haagerup. "Notícias construtivas não têm o enfoque do jornalismo norte-coreano, onde os problemas são ignorados e o céu é sempre azul."

    As soluções tampouco necessitam ser grandiosas, muito menos oficiais. Histórias inspiradoras têm grande ressonância, como se vê na seção "Dias Melhores", iniciativa recente da Folha. Casos como o de Bruna Sena, estudante negra, pobre e da rede pública que ficou em primeiro lugar no curso mais concorrido da Fuvest. Ou de Valéria Gomes Ribeiro, que decidiu adotar um bebê com microcefalia vítima de maus-tratos.

    Acreditar que mesmo uma ação isolada pode significar muito para o futuro já é parte da solução. Dias melhores, afinal, não deveriam ser exclusividade dos dinamarqueses.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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