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    Roberto Dias

    No aniversário, Lava Jato expõe a desfaçatez da corrupção

    16/03/2017 02h00

    Reprodução
    O ex-presidente Lula em vídeo do interrogatório de 48 minutos realizado na 10ª Vara Federal de Brasília; foi o primeiro depoimento dele como réu depois do começo da Lava Jato
    O ex-presidente Lula em vídeo do depoimento na 10ª Vara Federal de Brasília como réu na Lava Jato

    SÃO PAULO - "Só tem um jeito de a pessoa não se envolver com a Polícia Federal: se a PF não souber [da ilegalidade] e se a pessoa não se envolver nas denúncias." Era Lula, em 2008, defendendo as investigações.

    Os que reclamavam da polícia são os que agora veem abusos na Lava Jato. Fora isso tudo é diferente, a começar por Lula, desta vez ele próprio alvo de investigação. O que mais mudou nos últimos anos foi o peso que a suspeita descarrega nos envolvidos.

    Juridicamente, os pedidos de inquérito do procurador-geral são apenas o início do jogo. Cada um deles, se acatado, dará início a uma investigação, que eventualmente se transformará em denúncia, que terá de ser aceita pela Justiça, para só depois, quem sabe, resultar em condenação.

    Politicamente, os pedidos produzem o efeito de uma sentença. A força da acusação é tamanha que o PGR "ganhou" o poder de afastar ministros. Quem for denunciado, diz o Planalto, será retirado do cargo temporariamente. Se virar réu, adeus.

    Essa mudança de peso se deve à Lava Jato, que nesta sexta (17) completa seu terceiro aniversário. Depoimento após depoimento, a operação liderada por Sergio Moro foi tirando a corrupção da sombra, a despeito de freios como o foro especial.

    Chegou-se ao ponto de a ilegalidade ser debatida na linha do "certeza que não comentei isso antes?". Emílio Odebrecht disse que caixa dois era o "modelo reinante", que "sempre existiu". A desfaçatez ignora fronteiras e títulos: a Lava Jato fez o colombiano Juan Manuel Santos, Nobel da Paz, admitir desvio eleitoral.

    Sem ter a margem de antes para atacar a investigação, os políticos movem a artilharia para outro polo.

    "Abriremos espaço para um salvador da pátria?", questionou o senador Aécio Neves. "Não, é preciso salvar a política." Só que "salvar a política", nesse discurso, significa perdoar crimes —noves fora o fato de que foram justamente esses políticos que nos trouxeram até aqui.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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