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    Roberto Dias

    As nuances do sigilo sobre a fonte de informação

    23/03/2017 02h00

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    Reprodução jornal
    Primeira Página da Folha do dia 5 de março de 2017

    SÃO PAULO - Ombudsman de quase todos os assuntos da República, Gilmar Mendes não poderia deixar de opinar sobre o trabalho dos jornalistas. Ao comentar a divulgação de políticos envolvidos com a Lava Jato e criticar a Procuradoria-Geral, o ministro do STF disse que "a imprensa parece acomodada com esse acordo de traslado de informações".

    A imprensa decerto merece muitas e permanentes críticas, mas "acomodada", nesse caso, é um pouco demais. A discussão só existe porque a imprensa não se acomodou. Buscou informações e trasladou ao público as que lhe pareceram embasadas e relevantes —seu trabalho, afinal.

    O ministro fala em acordo. Qual seria? Toda fonte tem interesse. É papel do jornalista filtrar isso. Não há sinal, até aqui, de que algum repórter dessa cobertura tenha incorrido em conduta antiética ou criminosa.

    Dito isso, a semana é sim propícia para discutir o que no jargão se chama "off the records", informação de origem não explicitada ao público.

    Em São Paulo, num caso heterodoxo, um blogueiro foi levado à PF para revelar quem lhe contou sobre a condução coercitiva de Lula. No Maranhão, três blogueiros acabaram presos porque estariam utilizando dados sigilosos para chantagem.

    Nas duas situações, aponta-se que os envolvidos utilizaram a informação não de maneira jornalística, mas para beneficiar alguém ou a si próprio —o que está fora da garantia constitucional que preserva o sigilo da fonte no exercício profissional.

    É só o início da zona cinzenta. Mais e mais empresas usam técnicas jornalísticas para apurar algo destinado a um único cliente. Não há nada de errado com a atividade. Mas, a despeito do uso da técnica, isso não é jornalismo. O sigilo da fonte abarca esse exercício profissional?

    As nuances de uma profissão e de um setor em transição vão testar seguidamente os limites da lei, criada e executada por muitos dos que são objeto de notícias nada favoráveis.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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