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    Roberto Dias

    Há um elemento que escapa à lógica de Emílio Odebrecht, e ele se chama lei

    20/04/2017 02h00

    Reprodução
    Pagamentos continuaram após Lava Jato, diz Emílio Odebrecht
    Emílio Odebrecht em depoimento à Operação Lava Jato

    SÃO PAULO - "Há um Brasil que dá certo e aparece pouco nos meios de comunicação. O destaque é sempre dado ao escândalo do dia." Assim pensava Emílio Odebrecht em 2010, conforme escreveu nesta Folha. Sete anos pelo jeito mudam muita coisa, pois hoje sua visão é diferente.

    Aquela mesma imprensa que ele reputava combativa demais agora trata cada escândalo "como se fosse surpresa", segundo disse aos procuradores. "Me incomoda isso."

    Não é só a nova angulação do incômodo que impressiona. Emílio ficou bilionário montado num esquema de corrupção, como a Odebrecht admite. É incrível que, tendo engordado o bolso com dinheiro que deveria estar nos cofres públicos —não propriamente um exemplo profissional—, ele se sinta confortável em opinar sobre o trabalho dos jornalistas.

    Talvez o empresário tenha conseguido comprar uma voz aqui e outra acolá. Mas o sentido do que diz sobre a imprensa não é verdadeiro.

    O que nunca faltou foi falar de corrupção com empreiteiras. O acerto da Norte-Sul, o cartel no Metrô de São Paulo, as revelações de Cecílio do Rego Almeida —a lista é longa.

    Só não é maior porque existe um elemento que talvez escape à lógica de Emílio. Chama-se lei. Um jornalista não pode publicar qualquer história que escuta. É preciso haver como sustentá-la. Apenas uma operação como a Lava Jato, com instrumentos como a delação premiada, afiada em 2013, poderia levantar tamanha tampa de esgoto.

    Os vídeos dão a sensação de que a ficha do empreiteiro não caiu. O tom calmo de sua fala levou o procurador Sérgio Bruno Cabral Fernandes a um momento professoral: "Eu vou depois mostrar para o senhor o Código Penal. Só pra gente se situar."

    Antes quem ensinava era Emílio. Em 2002, ano da primeira eleição de Lula, o empreiteiro escreveu: "Na política, é preciso acabar com a demagogia, o oportunismo, o clientelismo e a corrupção." Ora pois, eis que em 2017 estamos todos aprendendo algo.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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