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    Roberto Dias

    Acordo com Joesley dá o recado de que o crime compensa, why not?

    25/05/2017 02h00

    SÃO PAULO - Ok, o procurador-geral da República vai argumentar repetidas vezes que o acordo com a JBS era necessário para descobrir crimes de altas autoridades. Mas isso não muda uma coisa. Quem olhar para a empresa e se perguntar se o crime compensa chegará à resposta inescapável: compensa sim, e muito.

    A multa que sete executivos da JBS acertaram com a Procuradoria por seguidas temporadas de falcatruas é de R$ 225 milhões. Quase tudo ficará a cargo de dois deles, os donos Joesley e Wesley. A cada um caberá pagar, parceladamente por dez anos, R$ 110 milhões. Não dá nem 4% do patrimônio individual (R$ 3,1 bilhões por cabeça, segundo a "Forbes" ).

    É inquietante também comparar essa multa com o dinheiro confessadamente envolvido no crime. A punição não alcança metade do que a JBS afirmou ter dado ilegalmente para políticos. Questão de lógica: investia-se porque retorno havia.

    Existe um segundo acordo em andamento, de leniência, esse agora empacado. O pedido é que a empresa pague R$ 11,1 bilhões, e a contra-oferta chegou a R$ 4 bilhões. Sempre bom comparar grandezas: só no último ano ela faturou R$ 170 bilhões.

    Isso no tocante ao dinheiro. Em relação aos criminosos a coisa é mais absurda, pois ficaram livres. Enquanto Brasília literalmente pega fogo, Joesley embarcou no seu jatinho para os EUA e mandou para lá um luxuoso iate batizado de Why Not.

    A JBS cometeu reiterados crimes que resultaram no desvio de dinheiro público para o bolso de seus acionistas e executivos. Olhar isso como uma questão de entregar um peixe menor como isca para um maior é errado. Trata-se da maior empresa privada não financeira do país.

    Parte importante do significado do combate ao crime reside no papel didático dessa atitude. No caso da JBS, os incentivos transmitidos para a sociedade estão tortos. Qualquer um pode olhar as fotos do iate de Joesley e se perguntar: "Por que não?".

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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