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    Roberto Dias

    Lei precisa mudar para ensinar o presidente a ser republicano

    10/08/2017 02h00

    Divulgação
    Graham Bell e sua invenção mais famosa | Crédito: divulgação
    Graham Bell ao telefone

    SÃO PAULO - Descrito como curioso e sensível, ele se interessou em estudar a voz humana por causa da surdez da mãe e da mulher. Acabou ajudando a inventar algo que, antes de mudar o mundo, chamou a atenção do chefe de Estado brasileiro.

    D. Pedro 2º foi a primeira pessoa a comprar ações da empresa de Alexander Graham Bell. Ela desenvolvia um aparelho, chamado telefone, que aparentemente não é visto com a mesma simpatia pelo atual ocupante da função na capital brasileira.

    Em vez de usar essa tecnologia mais do que centenária, Michel Temer prefere o tête-à-tête mesmo para assuntos que o próprio Planalto define como protocolares.

    Foi o que aconteceu na terça, quando recebeu a futura procuradora-geral da República às 22h em sua residência, o Palácio do Jaburu.

    Algum tema urgente ou especialmente reservado para justificar um encontro fora da agenda, tarde da noite, só tornado público graças a uma câmera da TV Globo? Não, o assunto era literalmente protocolar, diz Raquel Dodge: discutir data e horário de sua posse. Nada que um rápido telefonema não resolvesse, é óbvio.

    O melhor romancista teria dificuldade em compor enredo tão cruel —com esse simples não telefonema, Dodge colocou em xeque um pilar da argumentação do atual procurador-geral contra Temer. Para Rodrigo Janot, os encontros noturnos do presidente, fora da agenda, "revelam o propósito de não deixar vestígios dos atos criminosos lá praticados".

    E olhe que Temer não é lá de criar surpresas nas suas próprias histórias. Mesmo depois do caso Joesley, manteve a rotina de encontros fora da agenda. De tecnologia nova, o que quis conhecer foi uma contra a comunicação: um misturador de voz, instalado em seu gabinete.

    Talvez nem o antigo imperador tivesse práticas tão pouco republicanas. A legislação precisa ser alterada para deixar claro que isso não é aceitável para o chefe de Estado.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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