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    Roberto Dias

    Está mesmo na hora de trocar a diplomacia pela engenharia

    23/11/2017 02h00

    Denis Balibouse/Reuters
    Antonio Guterres, United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR), arrives for a news conference at the United Nations in Geneva, Switzerland December 18, 2015.
    António Guterres, secretário-geral da ONU

    SÃO PAULO - O português António Guterres aponta os pratos de porcelana chinesa e diz ao jornalista: "Sinto muitíssimo. A comida está ruim. Muito ruim." De quando em quando, um secretário-geral da ONU deixa a insignificância do cargo para passar um pouco de vergonha por aí. Agora foi a vez de Guterres.

    A cena acima, descrita pelo jornal britânico "Financial Times", ocorreu em uma sala privada na sede das Nações Unidas, em Nova York. Ex-premiê socialista de Portugal, o diplomata trabalha nessa estrutura bancada por cidadãos do mundo todo.

    Verba que vem de muitos países pobres e financia a vida de burocratas no Upper East Side de Manhattan para de tudo comer e beber e nada resolver na ONU —além de acumular milhões de dólares em multas de trânsito não pagas à cidade de Nova York, um dos mais cruéis acintes da imunidade diplomática.

    Enquanto Guterres reclamava da salada e do peixe que lhe eram servidos, um dos braços da sua entidade reunia um exército de 11 mil funcionários públicos por quase duas semanas em Bonn, na Alemanha, obviamente às expensas de todas as Viúvas do mundo, para mais uma vez condenar o planeta a derreter após nova rodada de inação em uma Conferência do Clima.

    Desse mato não sai cachorro nem solução. Está certo o economista americano Jeffrey Sachs quando diz, em entrevista à Folha, que a responsabilidade de resolver o futuro do planeta precisa passar das mãos dos diplomatas para as dos engenheiros.

    "São os engenheiros que fazem coisas, tecnologias, ferramentas", diz Sachs. "Frequentemente os engenheiros são contratados para desenvolver coisas que dão lucro, mas não têm sido contratados para fazer coisas para o bem comum. Se eles vão trabalhar para o bem público, quem vai pagá-los?", pergunta.

    Talvez Guterres, ele próprio engenheiro de formação, saiba em que pratinho está sobrando dinheiro.

    roberto dias

    Jornalista é secretário de Redação da área de Produção da Folha, onde trabalha desde 1998. Escreve às quintas.

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