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    Rodolfo Landim

    Desafio e oportunidade

    16/08/2013 03h00

    Há alguns anos, uma verdadeira revolução vem ocorrendo na atividade de exploração e produção de petróleo nos Estados Unidos.

    Depois de décadas em que se acreditava que a dependência de óleo e gás iria apenas se acentuar com o passar dos anos, a aplicação de novas tecnologias permitiu que a indústria do petróleo entrasse em um novo ciclo de prosperidade.

    Mas a grande questão que muito se discute é até que ponto o que vem sendo lá feito poderá ser estendido para outros locais e o impacto que isso poderá trazer para o balanço entre a oferta e a demanda de petróleo no mundo.

    Toda a mudança começou com a aplicação de novos métodos de perfuração de poços não convencionais, associados a fraturamentos massivos de formações geológicas saturadas de hidrocarbonetos, porém com baixíssima permeabilidade, chamadas de "shale" (xisto), e
    não consideradas até então como foco para a produção de óleo e gás. Isso permitiu que em poucos anos a produção de gás nos EUA crescesse para níveis recorde, mesmo com o declínio do número de sondas em atividade.

    Com a queda do preço do gás natural no país, as atividades exploratórias foram sendo paulatinamente direcionadas para áreas de "shale", em que há maior produção de líquidos. Apesar de o número de son-
    das em atividade nos últimos três anos nos EUA não ter variado muito -hoje são cerca de 1.800
    no país-, o índice dedicado a perfurar poços para produção de óleo, que era cerca de 47% do total no início de 2011, atingiu o patamar de 78% ao fim do primeiro semestre deste ano.

    Mesmo assim, a produção de gás tem continuado a crescer, e o nível dos estoques, se mantido elevado. Já a produção de óleo no país vem continuamente aumentando, e as expectativas são que em 2014 o acréscimo na produção média anual seja próximo a 1 milhão de barris por dia (mbpd), recorde na história da indústria americana.

    Tudo isso poderia sugerir estarmos em vias de ter em breve um
    choque de oferta em todo o mundo, mas a realidade é um pouco distante disso.

    Apesar da incessante e bem-sucedida luta pela redução do consumo de derivados de petróleo nos países desenvolvidos ocorrida nas últimas décadas, a demanda por petróleo no planeta deverá continuar a crescer, mesmo a taxa inferiores às da expansão da economia mundial, fruto do aumento do consumo dos países em desenvolvimento. As previsões da Agência Internacional de Energia apontam para uma demanda de 92 mbpd em 2014, 1,2 mbpd acima da média prevista para este ano.

    Outro ponto a ressaltar é que existe um declínio natural na produção dos campos de petróleo, algo em torno de 7% ao ano, o que exige enormes investimentos no setor apenas para manter o nível de produção constante. E, no caso de poços perfurados em áreas de "shale", esse declínio é ainda mais acentuado pelas características das rochas produtoras. Assim, se por um lado os grandes fraturamentos permitem que sejam atingidas produções iniciais elevadas nos poços, estas em pouco tempo caem a níveis bem baixos.

    Além disso, a viabilidade desses projetos é em grande parte facilitada pela gigantesca infraestrutura de produção preexistente nos Estados Unidos. Os depósitos de "shale" estão quase sempre associados a áreas cruzadas por dutos e facilidades de produção em superfície, reduzindo significativamente os investimentos dos projetos, algo nem sempre encontrado em outras regiões do mundo.

    Também não é possível comparar a disponibilidade de equipamentos de empresas fornecedoras de serviços para a indústria do petróleo nos Estados Unidos com o resto do mundo. Só para ter uma ideia, o número total de sondas em atividade fora daquele país é apenas de dois terços das que estão operando lá. Assim, a exploração de áreas de "shale" em outros países certamente exigirá um gigantesco investimento em instalações, equipamentos e prestação de serviços hoje inexistentes.

    A exploração das jazidas de "shale" quebrou paradigmas e trouxe novas perspectivas para a indústria do petróleo. Sua universalização será um grande desafio a ser vencido.

    rodolfo landim

    Escreveu até agosto de 2013

    Engenheiro civil e de petróleo, é presidente da Ouro Preto Óleo e Gás e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora.

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