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    Rogerio Chequer

    Um lago chamado Brasil

    06/04/2017 11h50

    Sérgio Lima/Folhapress
    ORG XMIT: 514601_0.tif BRASÍLIA, DF, BRASIL, 16-05-2005: Vista aérea da Esplanada dos Ministérios e do Congresso Nacional. (Foto: Sérgio Lima/Folhapress) ***EXCLUSIVO***
    Vista aérea da Esplanada dos Ministérios e do Congresso Nacional

    Há alguns dias, fui perguntado por uma jornalista se o Brasil havia melhorado com o impeachment. Respondi que sim. Ela insistiu: mas mesmo com tudo que tem acontecido? Respondi novamente que sim. E isso me remete a uma metáfora, a limpeza de um lago.

    Diz-se que a melhor forma de se limpar um lago é começar removendo a maior pedra. Aquela que se sobressai pelo tamanho e ocupa enorme volume. O problema é que, quando essa grande pedra é removida, o nível da água baixa, revelando muitas outras pedras menores que não eram visíveis até então.

    É como vejo o Brasil de hoje. O governo lulopetista e seus inúmeros aliados dominaram a máquina pública, roubaram o que encontraram pela frente, destruíram a economia, a renda e os empregos dos brasileiros, sequestraram o Estado. Essa foi a maior pedra —a maior corrupção e incompetência— da minha geração.

    Tirada a maior pedra do lago, vieram à tona uma miríade de outros problemas gravíssimos, que corroem os poderes e as instituições da República. O lago tem hoje uma vastidão de pedras, por toda parte, a perder de vista. Pedras que já estavam lá, que sentíamos quando caminhávamos no lago, mesmo sem vê-las. E que agora, sob a luz da Lava Jato, se revelam maiores e mais numerosas do que podíamos imaginar.

    Os problemas que emergem se misturam aos antigos. Mas há algo em comum entre eles: seus personagens. Uma casta de políticos que sugam o Estado e a sociedade. Nomes que estão no poder há décadas, passando-o para seus filhos, parentes e apadrinhados. Sanguessugas do futuro que, comprovadamente, transformam mandatos legislativos, executivos e judiciários numa máquina perene para gerar riqueza e poder para si mesmos. Estão fazendo isso enquanto você lê esse artigo. E o farão indefinidamente enquanto não forem interrompidos, seja pela Justiça, seja pela sociedade.

    Como os personagens não são novos —conhecemos bem as dinastias políticas brasileiras— a novidade vem nos planos inescrupulosos e cada vez mais audaciosos que eles querem nos enfiar goela abaixo. Anistia, foro privilegiado, e um abusado projeto de abuso de autoridade, todos com o único e simples objetivo de se proteger da Lava Jato, da Justiça que está em seu encalço. Querem voto em lista fechada e mais uma montanha de dinheiro, dos impostos que pagamos, para que possam se reeleger. Os partidos grandes —PT, PMDB, PSDB e DEM— unidos em torno de interesses pessoais comuns, criam assim uma nova grande pedra. E estão prontos para colocá-la no lago.

    Se permitirmos elevarem novamente o nível da água, será praticamente impossível, por mais algumas gerações, fazer a limpeza necessária nas outras pedras. Os mesmos velhos caciques e suas famílias continuarão a dominar os poderes e fazer as leis que os protegem e os enriquecem. Afogarão a democracia brasileira. E isso cabe a nós não permitir.

    rogerio chequer

    Escreveu até dezembro de 2017
    rogerio chequer

    É sócio da empresa SOAP. Engenheiro de produção pela USP, atuou por 18 anos no mercado financeiro e foi líder do Movimento Vem Pra Rua nos últimos três anos.

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