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    Rogerio Chequer

    O fim de uma longa espera

    14/09/2017 08h14

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no lançamento da campanha "Todos juntos contra a corrupção", em Brasília
    O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deixa o cargo no final desta semana

    Por 110 dias, o Brasil esteve fora dos trilhos. Nossos trilhos, neste momento, não são os trilhos do progresso, da educação ou do desenvolvimento. São os trilhos da Justiça. É o que temos para hoje.

    Nós colocamos uma enorme quantidade de bandidos no poder, permitimos por tempo demais que a Justiça fosse leniente e deixamos empresários compactuarem com esses bandidos. Não dá para pensarmos em progresso, ainda. Mas dá para pensarmos em faxina. Essa faxina começou no Paraná e está se espalhando por outros Estados e cortes. Mas ela sofreu duro golpe e foi interrompida em 17 de maio de 2017, quando foram reveladas as delações de Joesley Batista e dos executivos da JBS.

    Naquela data, o procurador-geral da República caiu como um patinho numa armadilha infantil montada por bandidos. De nada adiantou o público apontar a traquinagem, protestar e gritar. O procurador se gabava de ter recebido meia dúzia de confissões de quem estava envolvido em milhares de crimes. Foi preciso uma bebedeira e a ajuda dos astros para que caísse, no colo dele, vinda dos próprios bandidos, a prova cabal da armadilha na qual ele havia caído: novas gravações em que Joesley Batista e Ricardo Saud comentam como pretendiam agir com o Judiciário.

    E, da forma mais inusitada possível, em 4 de setembro de 2017, 110 dias depois, o Brasil volta aos trilhos da Justiça.

    Depois desse infeliz hiato, voltamos a assistir ao destampar incessante de bueiros, que trazem à tona tanto as realidades quanto o cheiro de tanta podridão. Diante do momento histórico, há os que reclamam da forma como os bueiros são abertos e ignoram as vantagens da limpeza. Há os que não suportam cheiro ruim, preferem virar o rosto e fingir que nada acontece. Há os que torcem para não serem pegos. E há os que assistem, aliviados, apesar do mau cheiro, o desvendar completo da realidade: o roubo da geração de riqueza do país, levada aos bolsos de alguns poucos.

    Não há outra forma de mudar nosso destino a não ser deixar a Justiça trabalhar sem influência dos que a temem, presentes nos três Poderes. O risco de interrupção da faxina é constante e requer nossa constante vigilância. Sem anistia forçada, ficou impossível ocultar a escória brasileira. Há gente demais sabendo e falando. E isso é uma excelente notícia.

    A retomada da justiça vem acompanhada de outro evento importante. Estamos a três dias da partida de Rodrigo Janot do cargo máximo da PGR. Já vai tarde. Janot poderia ter acelerado o processo da justiça. Ao contrário, esteve sempre ausente, omisso, atrapalhado ou, na melhor das hipóteses, atrasado.

    Encontrei Janot em maio de 2015. Na oportunidade, cobrei dele posição sobre ação de crime comum impetrada contra Dilma Rousseff, um mês antes. Cabia a ele encaminhar denúncia ao STF, o caso ao Congresso, ou negar a ação. Disse que levaria cerca de dois meses para tomar a decisão. Nunca o fez. Engavetou o caso sem ter tido a coragem de fazê-lo formal e oficialmente.

    Fico pasmo, incrédulo, ao ver as denúncias que Janot agora traz contra Lula, Dilma, Gleisi, Edinho Silva, Mercadante, Paulo Bernardo, Jucá e Renan, a míseros 12 dias de deixar o cargo. A argumentação nada traz de novo. Com fatos conhecidos há meses, anos, por que esperou até agora? Por que não o fez quando o Brasil inteiro já sabia das falcatruas desse bando? Só há duas respostas possíveis: incompetência (que inclui medo e inépcia para o cargo) ou má índole. O motivo não sei. Mas sei do mal que fez, protegendo criminosos que assaltaram nosso país por anos, à luz do dia.

    Como último golpe em seu histórico, ficam as estatísticas. Curitiba comandou 154 delações premiadas, sem grandes problemas. Janot comandou meia dúzia de delações, com problemas e morosidade de sobra.

    De 4 de setembro para cá, a atividade da PGR disparou. As delações de Lúcio Funaro e Antonio Palocci devem trazer mais lixo à tona. Encaremos o mau cheiro e exijamos o cumprimento célere da Justiça. Monitoremos para que Raquel Dodge mantenha o ritmo da faxina que os brasileiros exigem e de que o Brasil desesperadamente carece.

    rogerio chequer

    Escreveu até dezembro de 2017
    rogerio chequer

    É sócio da empresa SOAP. Engenheiro de produção pela USP, atuou por 18 anos no mercado financeiro e foi líder do Movimento Vem Pra Rua nos últimos três anos.

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